No último dia 27 de novembro, houve o lançamento do Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC) de 2018, organizado pelo Comunitas¹ .
O Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS) esteve presente no lançamento do relatório, em evento que contou com a participação de especialistas e empresas parceiras que consolidaram o BISC de 2018. Os resultados do BISC 2018 destacam três áreas de 259 empresas e 17 institutos/fundações empresariais parceiros que participaram da pesquisa: voluntariado, sustentabilidade e parcerias público-privadas.
Compartilhamos aqui as oito principais conclusões sobre o investimento social privado em 2018 no Brasil, que foram apresentadas no evento por Anna Peliano, coordenadora geral da pesquisa BISC.
1) A trajetória do grupo BISC sinaliza que os investimentos sociais estão consolidados
A primeira conclusão conta com uma consolidação dos investimentos sociais, em que os investimentos das empresas associadas ao BISC tiveram padrão de investimentos em um patamar de 2.4 milhões. Destaca-se que o comportamento não foi homogêneo entre empresas (11% de aumento de receitas) e institutos (73% de aumento de receitas, em que sofrem menos oscilações), porém, nos dois casos, houve aumento da participação no lucro líquido e bruto nas receitas.
2) Nos anos recentes, os incentivos fiscais perderam fôlego, mas se mantêm relevantes para garantir o apoio dos programas de apoio à cultura
A segunda conclusão foi que os investimentos em cultura são privados, tendo pouco incentivo fiscal (como por meio da Lei Rouanet). Os dados compilados em 2018 mostram que empresas e institutos associados investiram cerca de R$ 400 milhões em cultura. Neste montante, comunidades carentes, com maioria de estudantes da rede pública, receberam mais atividades culturais, principalmente as que relacionam arte e educação.
3) Perfil de atuação do grupo de empresas e institutos não é homogêneo e se modifica ao longo dos anos
Foi constatado que o maior investimento de empresas e institutos é em educação, com um valor de R$ 920 milhões, sendo 87% de institutos e 13% de empresas. Nesse sentido, houve priorização de ações direcionadas à educação formal e ambiental.
4) Os programas de voluntariado sofreram recuo, mas isso não se configura como uma tendência cristalizada
O estudo mostrou, em sua quarta conclusão, que houve queda de 42% de colaboradores voluntários em relação a anos anteriores. Além disso, as empresas fizeram com menos frequência atividades que eram fortalecidas em outros anos, tais como doações e trabalho em rede. Dentre as razões para essa queda em atividades de voluntariado, estão: crise econômica, queda na participação das lideranças que estão vinculadas à área de voluntariado, reestruturações internas e revisão de números (recursos humanos e financeiros). Porém, esse movimento não é definitivo e o crescimento do voluntariado é uma expectativa em empresas e institutos.
5) Parcerias com as Organizações Públicas estão em compasso de espera, no aguardo de definições no campo político e institucional
Os dados evidenciam que, enquanto 92% das empresas possuem parceria com as organizações sem fins lucrativos (com aumento de 9% de recursos destinados a essa área), 75% das empresas analisadas atuam em parceria com órgãos governamentais. Educação, cultura e esporte são as áreas de maior investimento. Este número mais baixo de parceria com governos é justificado pela incerteza nos campos político, jurídico e institucional. Nesse sentido, existem mudanças de políticas públicas, principalmente no Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), que acentuou essas incertezas.
6) Os investimentos no entorno não se limitam à compensação das ações para mitigar os impactos gerados
Em relação aos impactos sociais e ambientais, o estudo aponta que o leque de atividades desenvolvidas é maior que o leque dos problemas encontrados. O desenvolvimento local exige relações com as comunidades, nesse sentido, 80% das empresas associadas possuem unidades estruturadas para relação com as comunidades. Porém, poucas organizações atribuem problemas como impactos da sua atuação, dentre eles, a exploração infantil.
7) Os compromissos com o desenvolvimento sustentável estão inseridos na estratégia de todas as empresas
Um dos pilares do desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento social. Nesse sentido, o estudo mostra que investimentos sociais de empresas e institutos estão alinhados às políticas de sustentabilidade, com maior aproximação do investimento social à prática de sustentabilidade. Dentre os compromissos adotados com o desenvolvimento social e sustentável, 62% das empresas e institutos indicam promoção dos direitos humanos e 31% indicam o tema da redução das desigualdades, que é fundamental para o desenvolvimento sustentável.
8) Cresce o percentual de empresas que se comprometem com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Para que empresas e institutos tenham aderência sobre os ODSs, necessita-se, primeiramente, ampliar o conhecimento interno sobre o tema para, posteriormente, alinhar os projetos aos ODSs. No grupo associado ao BISC, os ODSs mais citados são: educação de qualidade (nº4) e parcerias em prol das metas (nº 17).
No decurso do evento, abriu-se espaço para algumas empresas associadas ao BISC apresentassem seus casos de investimento social privado que visaram a integração entre os campos social, ambiental e econômico. O momento foi dividido em três temáticas: a primeira narrou a inserção dos investimentos sociais na política de sustentabilidade das empresas. Participaram da primeira mesa Gerdau, Santander e Fundação Telefônica.
A segunda temática fez um panorama sobre a atuação de empresas no território, com apresentação de casos de três empresas: Vale, Engie e Votorantim. Por fim, a última temática promoveu um alinhamento dos investimentos sociais aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com participação de casos do Instituto Coca-Cola e da Neoenergia.
Assim, na temática do investimento social privado, pode-se constatar que os dados consolidados pelo BISC, em 2018, demonstram otimismo, e não acomodação de empresas e institutos de ações que gerem desenvolvimento inter e intra grupo associado. Nesse sentido, para concretização desta perspectiva otimista, é necessário o intercâmbio de experiências entre os setores social, ambiental e econômico de empresas e institutos que atuam com o investimento social privado.
¹ O Comunitas é uma organização da sociedade civil que objetiva contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais corporativos, bem como, impulsionar a participação da iniciativa privada no desenvolvimento social e econômico do país.
² Os dados chama a atenção pois, na prática, a promoção dos direitos humanos não é um tema frequente de atuação das empresas
Foto: Comunitas