Neste ano de 2023 que agora chega ao fim, o mundo finalmente entrou no pós-pandemia, mas este momento trouxe grandes desafios, pois novamente os mais afetados foram os mais pobres. O Brasil tem hoje 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias e 70,3 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, segundo um relatório da ONU. Além disso, 10 milhões de pessoas estão desnutridas no país. A questão da fome no Brasil é gritante.
Enquanto, em 2021 e em 2022, era alto o investimento em recursos de filantropia para ações emergenciais contra a fome, em 2023 vimos esse número cair. Superada a pandemia, as empresas logo se voltaram às suas antigas bandeiras e quase não se doa mais dinheiro para combater a pobreza.
Nesse sentido, para o CIEDS, o ano de 2023 representou um reforço na missão de abraçar de fato a causa do combate à pobreza como prioridade. Celebramos nossos 25 anos como uma instituição madura, consciente do seu papel, que foca no seu propósito, valoriza seus colaboradores, investe nas suas redes de relacionamento e busca ampliá-las, para crescer, assim, o impacto de sua missão.
Diante desse cenário, optamos por algumas estratégias novas em 2023:
#1 Defender a democracia como um instrumento no combate à pobreza
Acreditamos que a democracia garante espaços iguais de participação. Só assim teremos pessoas pobres ou ricas estejam à frente da tomada de decisões sobre políticas públicas. Ela garante representatividade em conselhos e renovação de lideranças, que faz com que políticas públicas sejam mais fortes.
#2 Fortalecer ainda mais as organizações de base comunitária
Fazemos isso porque acreditamos que reforça a democracia e também o tecido social, que é onde acontecem as mudanças positivas de qualquer sociedade. É lá que se identificam os principais problemas e onde se buscam as soluções.
#3 Levar a questão da inclusão social ao debate da crise ambiental
Adotamos a questão do meio ambiente como uma área estratégica de atuação, não simplesmente pela questão ambiental, mas acima de tudo pela humanitária. A cada dia, conseguimos ver a população que mora nas florestas ou nas periferias de regiões do Norte do Brasil e de grandes cidades sendo excluída dos processos de discussões sobre sustentabilidade, por exemplo. Parece que essa discussão é só para quem pode pagar. A gente adota a questão do meio ambiente como um processo inclusivo, de olhar para que as populações mais desfavorecidas tenham direito a participar e ter voz nesse processo de mudança.
E esses três pontos se refletem na prática em ações concretas:
#1 Escola de Governança e Liderança
Criamos a Escola de Governança e Liderança, com o objetivo de formar novas lideranças cívicas e públicas, mais engajadas com esse processo de mudança mais justo e de construção coletiva de soluções no combate à pobreza e, acima de tudo, mais conscientes de seus papéis na sociedade. É um papel de olhar para o próximo. De ser um representante, seja um vereador ou um deputado, não com o objetivo de se auto-beneficiar de alguma forma, mas para exercer seu papel num processo democrático que é formar uma sociedade. A iniciativa é fruto de uma tríade entre CIEDS, UNIPACE/ALECE e Senac Ceará.
#2 Baião Social
Hoje estamos com 250 organizações de base comunitária em um processo de formação e fortalecimento no Ceará, em uma iniciativa do Sistema Fecomércio Ceará, em parceria técnica com o CIEDS. A gente espera que essas organizações atuem mais efetivamente no combate à fome e na identificação dos principais problemas locais para o fortalecimento das ações comunitárias.
#3 FIOL (Ferrovia de Integração Oeste Leste)
Ainda atuamos na gestão de projetos de engajamento comunitário para grandes investimentos, como é o caso da FIOL (Ferrovia de Integração Oeste Leste), que vai ligar Ilhéus ao Tocantins, passando por 24 cidades em 537 km. Estamos à frente do plano ambiental, do plano de comunicação comunitária e do plano de engajamento comunitário. Para o CIEDS, isso representa uma nova linha de atuação, mas que carrega o DNA da organização, que é a articulação em redes, por meio de uma atuação que potencializa o conhecimento dos territórios.
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Destaco ainda, nesta perspectiva de empoderamento de organizações de base comunitária e combate à pobreza, o projeto Prosperidade Familiar, que a gente começou em São Luís, no Maranhão, em parceria com a Vale. A gente atua para tirar 4 mil famílias da linha da pobreza. E não estamos fazendo isso sozinhos, mas sim com 42 organizações comunitárias locais, que selecionamos e estamos capacitando, para que elas implementem soluções sustentáveis e duradouras.
Além disso, 2023 também foi o ano em que o CIEDS assumiu um papel mais ativo na melhoria da gestão da educação pública, com os projetos: PVE (Plano de Valorização da Educação), com o Instituto Votorantim e o BNDES, em que a gente atua em 48 municípios de todas as regiões do Brasil; e Balcão de Ideias e Práticas Educativas, com o Instituto Neoenergia , em que criamos metodologias locais que fortalecem a aprendizagem e a melhoria da gestão das escolas em 17 municípios.
Ainda em 2023, nós fortalecemos a nossa área de cultura, Além da gestão de dois CRJs (Centros de Referências das Juventudes), em Serra e Cariacica, ao lado do Governo do Estado do Espírito Santo, iniciamos uma ação que prevê a assessoria a municípios e estados na implementação da Lei Paulo Gustavo, visando democratizar, dinamizar e aumentar as culturas locais dos seus municípios, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Para finalizar, 2023 também marca o final de um ciclo de 10 anos à frente da gestão do programa de residências terapêuticas do município do Rio de Janeiro. Foi algo histórico, em que fizemos, ao lado da Prefeitura do Rio de Janeiro, a gestão de 97 residências. Uma equipe gigantesca atuou neste projeto e o objetivo não foi apenas o de transferir pessoas de instituições para residências, mas garantir vidas compartilhadas, retomando relações com familiares e construindo novos vínculos com vizinhos e comerciantes do entorno, sob uma nova perspectiva de viver integrada à cidade.
E 2023 também representou um olhar interno, no sentido de pensarmos juntos em como melhorar. Foram 25 anos bem vividos, de números expressivos de parceiros, em que fomos reconhecidos como uma instituição íntegra e transparente. Fomos reconhecida como a organização Número 1 do Brasil e 48o. do mundo pelo thedotgood.. Atuamos em todo o território nacional e estamos sempre presentes onde mais precisam de nós. Não nos eximimos, porque esse é o nosso papel, essa é a nossa responsabilidade. E 2024 já está logo ali, cheio de desafios e oportunidades.