Vandré Brilhante Diretor-Presidente
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A transição energética também precisa ser inclusiva

Artigo
26 setembro 2023
A transição energética também precisa ser inclusiva

Este mês, fui convidado pela Eletrobras e por mais um conjunto de empresas da área de energia elétrica, solar e de petróleo para uma missão no MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Boston: conhecer o programa MIT REAP (Regional Entrepreneurship Acceleration Programme), um programa de aceleração do empreendedorismo regional.

O Rio de Janeiro faz parte deste programa, ao lado de mais de 30 outras localidades em todo o mundo, visando uma transição para energias limpas. O nosso Estado é o berço do petróleo no Brasil, então nada melhor do que nós mesmos para pensar nessa transição. E a temática se torna ainda mais relevante quando vivenciamos, na prática, nestas últimas semanas, ondas de calor que chegam a mais de 40ºC no Brasil, em pleno inverno.

Visitamos várias incubadoras e aceleradoras do próprio MIT, espaços onde o jovem tem sua ideia acelerada. São laboratórios que trabalham projetos de energia solar, eólica, entre outras novas fontes de energia. Foi uma visita inspiracional, para conhecermos essa corrida do mundo por novas soluções energéticas – protagonizada por EUA e China.

Minha pergunta, após essa passagem pela região de Boston, que ainda tem a Universidade de Harvard e está fervilhando de novos projetos, é: quem se beneficia disso? São as novas empresas que vão surgir, essas startups de universidades caras?

Como ficam as populações mais pobres nesse processo de transição energética?

Hoje, 733 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade no mundo e 2,4 bilhões de pessoas ainda cozinham usando combustíveis prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. A informação está em um relatório produzido pelo Banco Mundial, pela Organização Mundial da Saúde e pela Divisão de Estatística das Nações Unidas, em parceria com a Agência Internacional de Energia e a Agência Internacional de Energia Renovável.

Não ter acesso à eletricidade e ao gás de cozinha, para uma família, representa uma qualidade de vida baixa e um elevado grau de pobreza. Precisamos, nesse processo de transição energética, garantir novas energias para quem não tem acesso.

A discussão que trago é: a transição energética precisa também ser inclusiva. Não podemos olhar apenas para a questão ambiental, mas também para a inclusão social e para a diminuição da pobreza entre as famílias mais vulneráveis. É preciso considerar que a transição seja feita de forma socialmente justa e economicamente acessível, promovendo mudanças propositivas, para que as pessoas mais desfavorecidas ao longo da história não fiquem para trás no acesso à energia e bem-estar social. Isso é especialmente relevante quando olhamos para os contextos da América Latina e da África.

O Hemisfério Norte entra nessa competição com a China por energias alternativas com a preocupação do desenvolvimento econômico e tecnológico. Na minha visão, não há a percepção de que essas novas energias podem melhorar a inclusão dos mais pobres mundo afora. O MIT traz os seguintes desafios, que ele considera os maiores a se pensar nas próximas décadas: mudanças climáticas, segurança e novas pandemias. Em nenhum momento alguém falou do desafio da fome, da pobreza ou da inclusão.

O que me chamou atenção em Boston foi o quanto a discussão sobre empreendedorismo é vital para o progresso social e econômico. Enquanto aqui no Brasil a prática ainda é tratada como algo feito por ONG e empresas que abrem seus laboratórios, lá o empreendedorismo é a maior ferramenta para o desenvolvimento, a inovação e a competitividade. A diversidade de oportunidades, de financiamentos e de laboratórios é muito grande.

A segunda coisa que me chamou atenção foi o quanto as universidades e os centros de pesquisa estão abertos e integrados nesse processo. Jovens, empresas, o governo e o terceiro setor estão pensando todos juntos como desenvolver a questão.

E, por fim, me chamou atenção o quanto isso está gerando riqueza: novas patentes, novas ideias, novas descobertas. No Brasil a gente tem pequenas ilhas de empreendedorismo em alguns locais, mas não existe um ecossistema empreendedor como um todo, estabelecido enquanto política pública e iniciativa governamental.

O CIEDS sai na frente nesse sentido, pois investe em projetos que unem na prática os conceitos de educação ambiental e empreendedorismo, como a Rede de Relacionamento Sustentável da Cidade Inteligente de Búzios, o Shell Iniciativa Jovem, o Luz nos Negócios, entre outros, que listo em mais detalhes ao fim deste artigo.

Acreditamos que não basta ter energia limpa. É preciso também ter pessoas prósperas, com mais saúde, mais educação, mais confiança no futuro. Essa abordagem visa garantir que ninguém seja deixado para trás na transição para um sistema de energia sustentável.

E o Rio de Janeiro pode protagonizar essa discussão, pois vamos ser sede do Rio Energy Summit, outro evento organizado pelo MIT, que vai ser realizado em julho de 2024. Cerca de 6 mil pessoas do mundo todo se reunirão para debater a transição energética. É uma excelente oportunidade para nós discutirmos com o mundo inteiro sobre como esse processo irreversível em torno das mudanças climáticas deve incluir a questão da diminuição da pobreza e do acesso à energia limpa também a quem não tem energia.

Conheça algumas experiências do CIEDS que consideram a questão da transição energética inclusiva:

Iniciativa Jovem

Alavanca negócios de alto impacto e potencial para contribuir com o desenvolvimento socioeconômico local. É realizado em parceria com a Shell Brasil. Realizamos essa ação há 13 anos e seus resultados nos rendeu o prêmio "Realização Excepcional para um Parceiro de Implementação do LiveWIRE (Outstanding Achievement for a Implementing Partner).

Luz nos Negócios

O projeto subsidiou oportunidades econômicas, novos negócios e a promoção do empreendedorismo na cidade de Quixeré (Ceará). Contou com a participação dos moradores da região para mapear as potencialidades e vocações do território, propondo projetos que garantissem a cocriação de soluções a partir das principais potencialidades da cidade. Ação em parceria com Statoil Brasil junto a planta solar em Quixeré.

Educaatinga

Uma das grandes riquezas do Brasil é sua biodiversidade, potência para um desenvolvimento sustentável e mais inclusivo. Tendo sido realizado em parceria com a Neoenergia, este projeto visou contribuir para a preservação e conservação do Bioma da Caatinga a partir da construção colaborativa, com estudantes e educadores de escolas públicas, por meio de tecnologias digitais.

Rede de Relacionamento Sustentável da Cidade Inteligente de Búzios

Junto com a ENEL, construímos uma rede que integrou atores locais da cidade de Búzios: associações de moradores, associações comerciais, empreendimentos e grupos produtivos locais, ONGs, Prefeitura e Secretarias Municipais. O objetivo foi sensibilizar e corresponsabilizá-los na construção da Cidade Inteligente Búzios: primeira cidade inteligente da América Latina, abrigando um modelo de gestão energética sustentável.

Balcão de Ideias e Práticas Educativas

Por meio da formação de professores e gestores, fomenta o desenvolvimento de ações coletivas e integradas em 17 municípios do Nordeste e gera oportunidades para que estes possam cocriar e ampliar estratégias pedagógicas, visando o desenvolvimento integral dos estudantes e sua relação transdisciplinar com o meio ambiente. Em parceria com a Neoenergia, consolida uma rede de difusão de soluções e práticas inovadoras em educação através da sistematização de práticas pedagógicas.