Marina Rotenberg Gerente de Marca e Comunicação
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Comunicação é um direito

Artigo
20 maio 2024
Comunicação é um direito

Começo daqui: a comunicação é um direito, que assegura a liberdade de expressão; o acesso à informação e a participação ativa na sociedade, sem interferências ou censura. E é um dispositivo fundamental para a democracia, inclusão social e desenvolvimento sustentável, uma vez que o próprio acesso à informação e à liberdade de expressão levam à garantia de demais direitos como saúde, assistência, educação e outros.

 
Partindo deste lugar, me chama bastante a atenção a Comunicação não estar na lista dos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), compromisso global de empresas, governos e sociedade civil para o mundo, até 2030. Globalmente não se fala sobre isso. Mas, por que será? 

Quando eu era aluna da graduação da PUC, já estava nos últimos períodos, lá pelo ano de 2015, e me encontrei com uma das disciplinas que traçou minha trajetória profissional: "Mídias Globais". O próprio nome mostra o tamanho da dificuldade de se discutir em espaços hegemônicos a atuação das mídias comunitárias e mídias alternativas. Cada palavra é preenchida de significado e a ausência destes termos naquele espaço certamente era uma escolha. As reflexões daquelas salas de aula me moveram. 

Na UERJ, pouco tempo depois, através de buscas e conexões que me levaram até lá, pude refletir, me aprofundar e vivenciar teoria e prática da Comunicação Dialógica,  participando da fundação do LCD (Laboratório de Comunicação Dialógica) liderado pelo professor Marcelo Ernandez. A partir desse contato conheci de perto veículos alternativos referência no Brasil como o Jornal O Cidadão, na Maré (RJ) e o Projeto Saúde e Alegria (AM) e autoras que me inspiram, como Raquel Paiva e Cicília Peruzo. 

Anos depois, participei da construção de um Jornal Comunitário na Ilha Grande (RJ), o Voz Nativa, projeto de mídia comunitária que buscava fortalecer história, tradição e cultura e tinha um papel ainda mais relevante em uma ilha. Por falta de uma política de transporte público marítimo para a população, moradores de praias vizinhas, separadas a dois minutos de barco, mas a duas horas por trilha, sequer se encontravam, ou tinham notícias uns dos outros. Por meio das oficinas de construção do Voz Nativa passaram a se comunicar, resgatar lendas e memórias, histórias importantes, além de se mobilizarem para reivindicar direitos junto ao poder público local.

Foram esses alguns dos caminhos que me levaram ao CIEDS, onde hoje estou Gerente de Marca e Comunicação. Aqui, foram inúmeros projetos construindo com as comunidades reflexões sobre comunicação comunitária e educomunicação, como o Plataforma dos Centros Urbanos, Jovens Comunicadores, Rede Mobiliza e tantos outros.
E não só nos territórios.  Na condução de nossas estratégias de Comunicação Institucional e Marca imprimimos também alguns pressupostos fundamentais da comunicação comunitária. Essas não abrimos mão: Inclusão e Diversidade, Ética e Responsabilidade, Transformação Social.

Durante essa semana, estive em São Luís do Maranhão junto a 41 organizações da comunidade do Itaqui-Bacanga produzindo reflexões e aprendizados sobre esse tema, facilitando a construção de uma comunicação consistente para o ‘Rede de Prosperidade Familiar’, iniciativa do CIEDS com a Vale que por meio da atuação destas organizações apoia 4 mil famílias do território, com mapeamento de demandas e construção de articulações para a garantia de direitos e redução da extrema pobreza. 

Foram diálogos ricos com quem já faz comunicação com adequação ao público, escuta ativa e foco no impacto. Mas, que também precisa (por direito) acessar conceitos, metodologias e novas ferramentas.

O mural, a rádio comunitária, o carro de som são imprescindíveis. Eles fazem a mensagem chegar a quem precisa. Mas, é preciso que lideranças comunitárias e organizações sociais possam avançar ainda mais. O uso das novas tecnologias e das inteligências artificiais precisa chegar para todos, facilitar processos, otimizar custos, organizar ideias.  Na disputa de narrativas, as comunidades devem se valer dos conceitos, metodologias e ferramentas utilizadas majoritariamente pelas grandes empresas para produzir suas próprias narrativas e ocupar o espaço que lhes é de direito.  

Com uma semana rica de trocas, o grupo de organizações sai com mais uma série de instrumentos e conceitos para colocar na bolsa, ir para a rua e fazer ainda mais. Não preciso nem dizer que a minha mala é a que volta mais cheia de novos aprendizados.