Neste mês de abril em que celebramos o Dia Mundial da Saúde, gostaria de aproveitar a oportunidade para escrever sobre a importância da promoção da saúde mental e da qualidade de vida das pessoas, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. Na internet, atualmente, é rotineira a discussão sobre bem-estar para as classes média e alta, que têm mais fácil acesso a atendimento médico de qualidade. Mas, entre os mais pobres, os desafios são bem maiores.
Como diretor-presidente do CIEDS, que é responsável pela cogestão de 96 Residências Terapêuticas do Rio de Janeiro, em parceria técnica com a Prefeitura do Rio, estou profundamente comprometido com a luta antimanicomial e com uma abordagem mais humana e inclusiva no tratamento de pessoas com transtornos psíquicos. E acredito que toda a comunidade precisa se envolver nesta causa, para acolher e desmistificar a loucura.
A importância do SRT (Serviço de Residências Terapêuticas) é imensurável. É uma iniciativa inspiradora, que busca proporcionar cuidado e tratamento em liberdade para pessoas com questões mentais severas e persistentes. São casas com equipes multidisciplinares por todo o município, que acolhem pessoas que estiveram por mais de dois anos em internação em instituições manicomiais e passaram a morar juntas em um espaço de convivência comunitário e em liberdade no território.
Estou orgulhoso em dizer que nossa organização apoia, desde 2015, esta política pública, que atualmente oferece o maior serviço deste tipo na América Latina.
Durante esse período, alcançamos coletivamente com o fechamento e a derrubada dos muros do Instituto Nise da Silveira e tivemos a desinstitucionalização da última pessoa que ainda estava internada, no Instituto Juliano Moreira. O encerramento definitivo do último manicômio da cidade do Rio é símbolo dessa luta, um exemplo a ser replicado no país.
É necessário tratar a loucura como algo presente, em vez de colocá-la a uma distância intransponível. A abordagem adotada é baseada na ressocialização e na inclusão das pessoas na sociedade. Além disso, a iniciativa busca envolver a comunidade no processo de ressocialização, por meio de diálogo com o território. A construção e o fortalecimento dessas redes com a comunidade é uma característica marcante do trabalho do CIEDS – e isso se dá em toda a nossa atuação, não apenas no campo da saúde.
A luta antimanicomial é uma causa que defendemos e praticamos em nosso dia a dia. Ela teve início no Brasil na década de 1980 e busca acabar com a internação compulsória de pessoas com transtornos mentais em manicômios. Em sua essência, ela propõe que essas pessoas sejam tratadas com dignidade e respeito – nada mais do que o mínimo – e que recebam o cuidado e o apoio necessário para viverem em sociedade.
Temos o dever de apoiar a luta antimanicomial e promover o tratamento humanizado e inclusivo de pessoas com transtornos mentais. Precisamos continuar trabalhando juntos para mudar a forma como a sociedade vê e trata a loucura. Somente juntos, atuando em redes e em comunidade, conseguiremos acolher e desmistificar a loucura.