José Cláudio Barros Diretor de Projetos e Programas
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Educação no Brasil: ferramenta fundamental para erradicação da pobreza e redução da desigualdade social

Artigo
24 janeiro 2024
Educação no Brasil: ferramenta fundamental para erradicação da pobreza e redução da desigualdade social

No Dia Internacional da Educação, o Diretor de Programas e Projetos José Cláudio Barros reitera a importância da Educação no Brasil como ferramenta para quebrar o ciclo intergeracional da pobreza e resgata boas experiências que podem apontar caminhos para construir a Educação que desejamos, fortalecendo a parceria de todos os atores da sociedade com a escola

 Cada vez mais, a garantia do direito a Educação pública de qualidade, considerando todas as diversidades presentes no país e dentro das escolas, se mostra como o principal caminho para uma sociedade mais equitativa e com menos pobreza. E o começo dessa trilha está na superação do desafio ao acesso e à permanência na escola: atualmente, são cerca de 2 milhões de meninos e meninas fora da escola no Brasil – e esse número retrata apenas um pedaço do cenário preocupante que vivemos. 

Isso porque, enquanto a pandemia de COVID-19 afetava profundamente as camadas mais pobres da população, também escancarava e acentuava as desigualdades que vivemos. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 32 milhões de crianças e adolescentes vivem em situação de pobreza no País. E entre os oito indicadores que compõem o conceito de pobreza multidimensional, três deles tiveram piora expressiva entre 2020 e 2022: alimentação, educação e renda. 

Se todas as estratégias do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) forem implementadas como previstas, as escolas serão locais privilegiados para garantir segurança alimentar de milhares de crianças e adolescentes que não têm o que comer em casa. Além disso, é a completude do processo escolar que torna possível romper o ciclo da pobreza, já que jovens que têm a educação básica completa passam mais tempo de sua vida produtiva ocupados e em empregos formais, com maior remuneração, e têm maior expectativa de vida com qualidade. 

Não há como pensar em erradicação da pobreza e redução da desigualdade se não pensarmos em acesso a escola e melhoria da qualidade da educação pública. É somente através da Educação que podemos quebrar o ciclo intergeracional da pobreza que persiste em determinar o destino de tantos brasileiros. 

E neste Dia Internacional da Educação é importante lembrar que o compromisso por uma educação pública de qualidade não é apenas da comunidade escolar e de gestores públicos, mas de toda a sociedade. Como percebemos na pandemia, grande parte dos fatores que dificultam os bons resultados da educação são externos às escolas. A violência doméstica, a exploração sexual, o trabalho infantil, o machismo, o racismo, a homofobia, a falta de acessibilidade, a fome além dos conflitos armados que circulam grande parte das escolas públicas, estão entre os muitos fatores que a sociedade não cuida como deveria e que repercute negativamente dentro da escola. É fundamental a consciência de que a luta por uma Educação de qualidade no Brasil é de todos: é dever da comunidade apoiar a escola e dar segurança para que ela desempenhe seu papel. 

A pergunta, então, precisa ser: como assumimos um compromisso coletivo para manter crianças e jovens na escola?  

Como melhorar a Educação no Brasil: 5 pontos fundamentais  

  1. Reconhecendo Práticas Inspiradoras de educadores e escolas 

A melhoria da educação pública deve partir do chão da escola, considerando a vivência de educadores em suas diferentes realidades e contextos. Não pode ser pensada apenas em gabinetes. É preciso reconhecer o que a escola com suas educadoras e seus educadores já estão fazendo - através do compartilhamento de boas práticas, de forma a tirá-las da invisibilidade e ampliar resultados. É nesse sentido que o CIEDS atua junto ao Instituto Neoenergia com o Balcão de Ideias e Práticas Educativas, que tem como objetivo consolidar uma rede de difusão de ideias e práticas inovadoras em educação por meio da sistematização de práticas pedagógicas que trabalhem as dez Competências Gerais da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, contribuindo para o desenvolvimento integral de estudantes das redes públicas de ensino. 

O Balcão de Ideias já impactou mais de 2 mil educadores e 52 mil alunos de 23 estados brasileiros e, no último ano, foi reconhecido internacionalmente como exemplo de iniciativa de impacto positivo pela pesquisa Global Impact at Scale, elaborada pela organização internacional Chief Executive for Corporate Purpose (CECP). 

 Atividade do Balcão de Ideias e Práticas Educativas

Atividade do Balcão de Ideias e Práticas Educativas

 

  1.   Garantindo a sintonia entre o aprendizado para o mundo do trabalho e a aprendizagem escolar 

Sendo a geração de renda uma questão fundamental para a maior parte das famílias brasileiras, como garantir a permanência do jovem que precisa ganhar dinheiro para ajudar a família? 

Uma das saídas é o programa Jovem Aprendiz. Através da lei n° 10.097/2000, que regulamenta o programa, o aprendiz é incentivado a conciliar o trabalho com os estudos, o que ajuda a fixar melhor os conhecimentos adquiridos e diminui a evasão escolar. O jovem tem a oportunidade de desenvolver habilidades técnicas e comportamentais e a empresa ganha, com um quadro profissional diverso e potente que a juventude é capaz de trazer.  

No Coletivo Aprendiz, por meio dos programas de Estágio e Jovem Aprendiz, o CIEDS trabalha para o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens e seu ingresso no mundo do trabalho, além de promover o empoderamento das juventudes e a inclusão social. Já foram mais de 960 empregos e R$ 7.330.620,70 de renda gerada em um trabalho conjunto entre jovens, empresas e sociedade. Para o Coletivo, um trabalho com dignidade e aprendizado muda uma vida.  

 Atividade do Coletivo Aprendiz

Atividade do Coletivo Aprendiz

  1. Proporcionando espaços de formação continuada para professores  

Considerando que é sempre importante refletir sobre a prática e investir em novas tecnologias educacionais que possam ampliar as oportunidades de aprendizagem dos estudantes mais excluídos, é preciso garantir espaços de formação continuada crítica e criativa para educadores e gestores escolares. Este é um ponto crucial para a busca de novos conhecimentos e metodologias para facilitar o processo ensino-aprendizagem. 

É nesse contexto que o Programa Parceria pela Valorização da Educação (PVE) de iniciativa do  Instituto Votorantim e implementado pelo CIEDS , oferece assessoria e formação continuada para professores e equipes de gestão dentro de uma proposta inovadora mobilizando membros da comunidade escolar e do entorno e utilizando metodologias ativas que tornem o processo de aprendizagem prazeroso, dinâmico e criativo. 

 

  1. Investindo na paixão pelo aprender, em desvendar os mistérios que só a ciência pode investigar. 

Para garantir a permanência interessada na escola, é preciso cada vez mais que a Educação seja embalada por metodologias que fazem com que o ambiente de aprendizagem seja criativo, inovador e instigador. Um ambiente onde o estudante, como Paulo Freire defendia, se sinta autônomo para o processo de aprendizagem, considerando suas reais necessidades e seus diferentes contextos e diversidades. 

Nesse sentido, a Airbus Foundation, com articulação do CIEDS, levou participantes de seu programa de voluntariado para dentro de escolas públicas em Itajubá (MG) para implementar a iniciativa Flying Challenge, que tem como objetivo desenvolver e inspirar jovens a explorar carreiras na indústria aeroespacial. Em 2023, foram mais de 60 crianças entre nove e onze anos fortalecendo o prazer da aprendizagem nas disciplinas do STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) e conhecendo profissões pouco difundidas no Brasil. 

 

  1. Construindo uma escola inclusiva e diversa: lugar seguro para alunes LGBTQIA+ 

É fundamental que a escola assuma um papel ativo na construção de uma sociedade mais diversa  A escola precisa ser espaço de respeito às diversidades, acolhimento e inclusão, ativa na construção de uma consciência de paz, que permite uma sociedade plural e sem violência. 

O Escola +Diversa, iniciativa do CIEDS em parceria com o Itaú Unibanco e a Mais Diversidade, desenvolveu estratégias de combate à LGBTfobia no ambiente escolar, visando à garantia dos direitos de acesso à educação pela população LGBTQIA+ e, consequentemente, seu ingresso qualificado no mercado de trabalho. 

Jovens LGBTQIA+ com idades entre 18 e 24 anos, estudantes e representantes de todas as regiões do Brasil, se mobilizaram no debate sobre diversidade e educação inclusiva e construíram coletivamente estratégias e ferramentas para uma escola mais inclusiva e acolhedora. Esse material foi consolidado e virou o Mapa da Diversidade, gratuito e de fácil acesso, para que profissionais da educação de todo o país possam fazer uso em suas práticas e fazeres junto à comunidade escolar.  

Esses diferentes projetos são apenas alguns importantes e exitosos exemplos do que poderia ser feito em grande escala pela sociedade no esforço coletivo pela educação pública de qualidade. Importante cada um de nós nesse dia se questionar, seja como instituição, empresa e indivíduo, se não há nada que possamos contribuir e ser parceiros nesse grande desafio que é de todos nós.