A concepção de educação integral, durante o período da pandemia provocada pelo coronavírus, deve ser mais humanizada, acolhedora e conectada em redes, ampliando a proximidade entre alunos, famílias, professores e gestores da educação. Deve reforçar seu compromisso com a superação das desigualdades, permitindo a criação de estratégias que reduzam seus impactos na formação dos estudantes. Esses foram alguns dos tópicos citados durante a 6ª edição do SIEI (Seminário Internacional de Educação Integral).
O encontro, que normalmente era realizado em auditórios de forma presencial, precisou ser transferido para o ambiente on-line, em mais uma adaptação necessária nos novos tempos. A transmissão foi realizada ao vivo pelo Facebook e pelo Youtube da Fundação SM, uma das instituições responsáveis por promover o diálogo, em parceria com o CREI (Centro de Referências em Educação Integral), coletivo que conta com o apoio do CIEDS, e pode ser assistida aqui.
Com o tema “Como ensinar e aprender neste período de pandemia: qual o papel da educação integral?”, a mediação foi de Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM, que recebeu como convidadas: Tereza Perez, Diretora-Presidente da Comunidade Educativa CEDAC; Natacha Costa, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz; e Anna Helena Altenfelder, presidente do conselho de administração do CENPEC.
Além da fala das quatro convidadas, a transmissão também contou com depoimentos de pessoas ligadas à educação em todo o país, desde alunos de escolas da rede pública de ensino a professores e secretárias de educação.
“Os depoimentos são muito contundentes e emocionantes. Os sentimentos e as sensações de preocupação, de medo, de incerteza, de insegurança e até mesmo de se sentir muito atribulado estão presentes na maioria das falas. Embora esses sentimentos bastante intensos sejam comuns, é verdade que eles vão depender do contexto onde as pessoas estão inseridas. Quanto maior a vulnerabilidade, mais forte serão esses sentimentos. A gente tem que considerar isso”, avaliou Anna Helena Altenfelder.
Além dos depoimentos transmitidos em vídeos na própria a live, os chats de conversas, tanto do Facebook, quanto do Youtube, foram intensos, com muitos profissionais da educação fazendo perguntas e contando suas experiências com atividades de ensino durante a pandemia. Apenas no Facebook, foram mais de 5,7 mil espectadores, gerando mais de 1,1 mil comentários. No Youtube, mais de 700 pessoas também acompanharam o debate ao vivo, de 80 municípios diferentes, de todas as regiões do Brasil.
“Quando a gente pensa em educação integral em tempos de pandemia, também temos que pensar em acolher e cuidar das pessoas. Alguns depoimentos trazem isso, como é importante a proximidade, de saber dos seus alunos, das famílias. É tempo de acolher alunos, famílias, professores. É importante criar uma rede, envolver as famílias, envolver as comunidades”, completou a presidente do conselho de administração do CENPEC.
“Tem que manter o vínculo com os alunos, para diminuir a evasão. A gente sabe que a situação é bem ruim para manter o contato com todos, mas quanto mais a gente puder fazer isso, melhor”, acrescentou Tereza Perez, citando ferramentas como o whatsapp para manter uma relação mais próxima com as famílias dos alunos.
Natacha Costa reforça a questão, dizendo que é preciso humanizar a conversa sobre a educação. “Mais do que nunca, hoje já não é uma escolha a gente ouvir as experiências das escolas, dos estudantes, das famílias, dos professores dos gestores, para que, a partir dessas experiências, das possibilidades e também dos limites que estão colocados, construir saídas coletivamente”.
Desigualdades devem ser reduzidas e não exacerbadas
Para as convidadas, a pandemia deixou ainda mais latente a questão da desigualdade, que já era um tema relevante e permanente no debate da educação integral, que é compreendida como direito.
“A questão da desigualdade é muito cruel. Hoje, mais do que nunca, a gente precisa olhar para isso de forma muito clara, para entender como vai traçar estratégias, para que não seja um período que agrave desigualdades. As escolhas que a gente fizer hoje, como país, como redes, como escolas, vão determinar se vai ter um agravamento das desigualdades ou se a gente vai traçar um caminho de superação, a partir do reconhecimento claro do problema”, afirmou Natacha Costa.
“A pandemia nos puxou o tapete, deixou todo mundo em situação de desequilíbrio cognitivo, funcional, emocional. Não só as famílias eram invisíveis a nós, como a brutal desigualdade que a gente vive. Por mais que a gente fale dela, discuta, batalhe para que ela diminua, os professores, ao levarem materiais para os alunos, por exemplo, tiveram uma tomada de consciência geral da fragilidade em que essas crianças e jovens vivem. Eles estão expostos a muitas inseguranças. De alimentos, de integridade física”, explicou Tereza Perez.
As três ainda debateram sobre a necessidade de se considerar o acesso à internet como item básico, neste momento, para permitir que seja conduzida a educação à distância. “A gente vive numa sociedade contemporânea que incorporou completamente as tecnologia de informação e comunicação. Não dá para pensar uma educação na vida contemporânea sem a garantia desse acesso [à internet]. Trata-se de acesso, mas também da gente entender qual o papel que as tecnologias podem desempenhar num processo educativo. E o papel não é substituir o professor e as escolas. Literacia digital tem que ser um direito? É verdade. Mas isso tem que estar a serviço de uma formação integral”, avaliou Natacha.
O CIEDS integra a rede de instituições do CREI e tem a concepção de Educação Integral como um dos eixos norteadores da área de Educação, que desenvolve projetos visando contribuir com a formação integral dos estudantes em escolas públicas de todo o país.
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