Em mais uma ação voluntária, o artista plástico Cocco Barçante levou os artesãos para este mergulho cultural através da exposição “ÍNDIA!”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. A visitação, feita no dia 25, faz parte do curso gratuito de Design & Estamparia ministrado pelo artista, em parceria com o Cieds e a Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico Solidário (Sedes).
“ÍNDIA!” é a maior mostra de cultura indiana realizada no Brasil. São 18 salas com mais de 300 peças, trazendo o que há de mais milenar e também o de mais contemporâneo na cultura do país.
A exposição foi dividida em quatro módulos: Homens, Deuses, Formação da Índia Moderna e Arte Contemporânea; e suas obras foram trazidas de museus em Zurique, Holanda e Berlim.
Para Barçante, a exposição é uma maneira de sensibilizar os artesãos para as cores e formas utilizadas na cultura indiana e que podem servir de inspiração para a criação de suas peças artesanais. “A ideia é observar as cores, as formas e o equilíbrio das cores e formas dentro de uma criação artística, seja ela um artesanato ou uma tela. Cada característica utilizada na estamparia tem uma intenção do artista-criador e que ele quer passar para quem está observando”, explica.
Confira a entrevista exclusiva com Cocco Barçante:
CIEDS: Você já foi voluntário em outra ação?
Cocco Barçante: Eu trabalho como voluntário em um grupo do Complexo da Maré há dez anos, no qual a gente está sempre visitando exposições. Isso faz parte do meu processo como artista: trabalhar com inclusão através da arte.
CIEDS: Essa vontade de trabalhar como voluntário surgiu de onde?
Cocco Barçante: Foi um processo muito natural, é muita coisa para ficar dentro da gente. Então, surgiu da necessidade de compartilhar meu trabalho e conhecimento. É uma realização tanto pessoal quanto profissional.
CIEDS: Qual o objetivo da sua oficina de Design & Estamparia em Copacabana?
Cocco Barçante: O objetivo é buscar, através da estamparia, o equilíbrio estético dos produtos desenvolvidos pelos artesãos. A estamparia é algo que envolve muito conhecimento técnico. Você precisa ter muita noção de cor, de forma e de equilíbrio desses elementos. A finalidade, então, é trabalhar o equilíbrio estético e, automaticamente, design dos produtos.
CIEDS: Essa é a primeira vez que você oferece este curso?
Cocco Barçante: Não, esse curso é meu carro-chefe. É um momento para promover essa nova percepção de cores e formas nos participantes. A visita à exposição “ÍNDIA!” foi importante justamente por mostrar um país que utilizou essas informações como expressão de sua cultura diante do mundo. Por exemplo, a estampa cashmere, da região de Caxemira, ganhou o mundo nos anos 40 e 50. Essa exposição mostra também a estética e design contemporâneos por meio da cultura e identidade do passado.
CIEDS: Como os artesãos podem aproveitar esse momento de efervescência que a Cidade no Rio de Janeiro está vivendo atualmente, como Sede de vários eventos internacionais?
Cocco Barçante: Esse é o momento de buscar como você vai transformar a cultura da sua comunidade em um produto, respeitando todo o processo de Economia Solidária. Uma das formas que eu vejo é valorizando esses ícones, como o Cristo Redentor, utilizando a técnica de identidade de cada comunidade. Estar no calçadão de Copacabana é uma conquista enorme. Não somente em relação a localização do ponto, mas também o momento de forte transformação do artesanato no Rio. Esse quiosque nasceu em um período em que a Economia Solidária está forte no mundo e, principalmente, no Brasil. Elas precisam mostrar que são muito mais que um produto com o Cristo ou uma bolsa com um Pão de Açúcar. Esse quiosque é uma bandeira de representação de conquista e um ponto de transformação social dentro da cidade.
CIEDS: Então, seu curso é muito mais do que estamparia, não é?
Cocco Barçante: Sim, é muito mais. Quando a gente cria um produto, temos que pensar além da peça. Temos que nos perguntar o que esse produto tem a ver com a história da comunidade. Por exemplo, de onde surgiu a Cidade de Deus? Quais foram as pessoas que formaram a comunidade? Elas tinham sido levadas para lá com uma cultura, que não era valorizada por conta da preocupação com coisas mais básicas como comida, filhos, água e luz. Hoje em dia, existe uma atenção em resgatar a cultura desses locais, porque existe esse espaço real e a cultura valorizada. Há vinte anos, se você falasse que existia uma roupa feita em uma comunidade, ninguém queria, porque a referência era o que vinha dos Estados Unidos e da Europa. Atualmente, existe uma identidade artesanal local voltada para a moda. A partir do momento que a moda se utiliza do artesanato, ela proporciona automaticamente a busca da identidade local daquela comunidade.