“As pessoas ainda acham que o rugby é um esporte violento, precisamos mudar isso”, afirma a adolescente Leila Cassia dos Santos, de 17 anos, que desde que nasceu mora em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo. A jovem, que vive com a mãe e o irmão de 13 anos, frequenta a quadra do bairro pelo menos uma vez por semana e conta que, apesar do preconceito que existe sobre o esporte, é nele que consegue encontrar calma e controlar sua impulsividade.
“É muito ao contrário do que as pessoas imaginam. Antes eu era muito agressiva, tanto dentro como fora de casa, eu vivia brigando com o meu irmão. Quando conheci o rugby e comecei a praticar, foi diferente de tudo que eu já tinha participado. A gente precisa saber enxergar os colegas no campo e respeitar os adversários”, explica a jovem.
Leila é estudante no 3º ano do ensino médio e foi uma das primeiras participantes do projeto Raízes do Futuro, pelo Instituto Rugby para Todos. A adolescente conta que o projeto, aliado ao aprendizado do esporte, ajudou-a a se descobrir. “Quando eu aprendi sobre mediação de conflitos e a ouvir o outro lado, realmente aprendi a não agir por impulso. Isso me ajudou a controlar meu temperamento, antes eu reagia sem pensar”.
O projeto Raízes do Futuro oferece diversas oficinas para que esses adolescentes e jovens façam escolhas conscientes na vida e no mundo do trabalho, além de auxiliá-los a refletir sobre sua identidade e habilidades e a escolher de forma consciente os próximos passos que darão em sua vida.
“O projeto me ajudou a me descobrir como pessoa e o que eu quero para o meu futuro”, conta a adolescente que pretende se especializar em gastronomia e abrir seu próprio restaurante. “Eu tenho isso na cabeça desde quando entrei para o Raízes do Futuro. Desde o primeiro dia, quando me pediram para preencher meu nome e o que eu mais gosto no crachá eu escrevi: gosto muito de cozinhar. Foi nesse momento que eu soube que deveria focar minha atenção na gastronomia”, revela a adolescente.
Leila conta que tem estudado bastante e se preparado para prestar o vestibular, mas que também tem pesquisado sobre cursos técnicos de gastronomia que estejam próximos de sua casa. “Eu pretendo continuar no Rugby para Todos enquanto estiver aqui em Paraisópolis”, conta a adolescente que brinca ao mostrar algumas de suas lesões. “Algumas amigas da escola dizem que rugby é coisa de homem, mas eu não vejo assim, acho que sou feminina, gosto de rosa, mas também adoro praticar esporte e os amigos que tenho aqui”, explica.
Leila conta sobre os sonhos, sem hesitar: “Eu quero me formar e ter meu próprio restaurante, já pesquisei sobre o que é preciso para montar seu negócio. Eu acho que já tenho a primeira coisa: a noção de aonde quero chegar. O projeto me ajudou a não levar as coisas só na impulsividade, a planejar, identificar prioridades e separar por etapas o que precisa ser feito”, conclui a adolescente.
Raízes do Futuro – O projeto Raízes do Futuro faz parte de uma parceria global entre o UNICEF e o Barclays, que tem como objetivo capacitar 74 mil jovens em situação de vulnerabilidade em seis países: Brasil, Egito, Índia, Paquistão, Uganda e Zâmbia, de forma a desenvolver habilidades e competências para auxiliá-los a atingir seu pleno potencial no mundo do trabalho e na vida.
No Brasil, as ações estão sendo realizadas, desde novembro de 2012, em parceria com cinco organizações não governamentais que atuam na área: Associação Beneficente Vivenda da Criança, Instituto Dom Bosco, Instituto Reciclar, Instituto Rugby para Todos e Sociedade Benfeitora do Jaguaré. A coordenação técnica é do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento (CIEDS).