É o que afirma Pablo Rodrigues entre livros e papéis em um um lugar especial de São João de Meriti, região metropolitana do Rio de Janeiro, onde muitas histórias ganham vida e são publicadas. O jovem criou a ‘Desalinho Publicações’, uma editora independente que trabalha com textos acadêmicos e literários da cena periférica carioca. Ele foi um dos 30 participantes do Juventude Empreendedora e seu negócio foi premiado como um dos destaques do programa em 2019.
A paixão pelos livros é antiga, um de seus primeiros presentes de aniversário foi uma bíblia, que o empreendedor carinhosamente traz na memória e guarda na gaveta: “Era pequena, com a capa preta e letras bem miúdas, tenho ela até hoje”. A coleção de obras e exemplares foi crescendo, assim como o interesse pelas publicações.
Nos tempos de escola era o responsável por cuidar do acervo da biblioteca, o que possibilitou um maior contato com o mundo da leitura e cativou o olhar do jovem para o universo da literatura. Anos depois ingressou no curso de Letras na universidade e lá nasceu a ideia de abrir uma editora. “A Desalinho surgiu da necessidade de ter uma renda assim que eu acabasse a graduação. E somado ao esforço de amigos e parceiros ela tem caminhado e crescido pouco a pouco”, conta.
Os desafios são muitos, e para Pablo, empreender a partir da condição de jovens negros, LGBTQI+ e periféricos não é uma tarefa fácil, há barreiras para além dos negócios, como o preconceito. “Eu estava chegando com o carrinho de livros em uma livraria na Zona Sul e o atendente me disse ‘não é aqui, não! É na porta ao lado’. A porta ao lado era outro estabelecimento. Expliquei que trazia os livros para o lançamento daquela noite e ele, constrangido, pediu desculpas. O problema é que no imaginário daquele atendendente pessoas como eu não poderiam estar fazendo o que faço.”
Buscando se capacitar e obter mais conhecimento sobre o mundo dos negócios, participou do Juventude Empreendedora, uma iniciativa do CIEDS que conta com o apoio de grandes parceiros e tem o objetivo de incentivar jovens empreendedores de favelas e regiões periféricas do Rio e fomentar a criação de negócios de impacto social por meio do programa de educação empreendedora.
“A marca do Juventude Empreendedora é de ajudar jovens da periferia e muitos de nós, creio que não sou o único, sentem dificuldades em sonhar o próprio futuro”, ele comenta. “Eu já tinha procurado consultorias mas os custos eram muito altos, o JE foi um passo muito importante nesse primeiro momento de capacitação profissional”, conclui.
Inscrições para o Juventude Empreendedora 2020 já estão abertas
Jovens empreendedores do Rio de Janeiro, assim como Pablo, também podem inscrever suas ideias ou negócios na próxima edição do programa. Para participar do Juventude Empreendedora 2020, é preciso ter entre 18 e 25 anos e morar em comunidades ou regiões periféricas.
Serão selecionados 80 candidatos e as formações vão acontecer em quatro diferentes locais: Centro, Méier, Nova Iguaçu e Duque de Caxias. As inscrições vão até o dia 15 de março e podem ser feitas através do link: bit.ly/inscricaoje2020.
O Juventude Empreendedora faz uso do empreendedorismo como uma ferramenta de mudança social. Idealizado pelo CIEDS, oferece formação empreendedora para que jovens do Rio de Janeiro tenham a oportunidade de criar novas formas de geração de renda, impactar positivamente suas comunidades e fortalecer a confiança no futuro. O JE busca incentivar e ajudar empreendedores a se desenvolverem, formarem redes colaborativas e prosperarem suas ideias, criando soluções criativas para as demandas do mercado de maneira socialmente responsável.
Mais de 250 jovens já participaram do programa desde seu início, em 2017, e mais de 90 negócios foram criados. Em 2019 o Juventude Empreendedora foi reconhecido como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil por ter potencial de se aplicar em diferentes localidades.