Ninguém conhece melhor a localidade do Açu do que Luiz César. Liderança local integrante da Associação de Moradores e Amigos da Barra do Açu (AMA Açu), o ex-cabeleireiro é nascido e criado no 5º distrito de São João da Barra, no Norte Fluminense. Este ano, ele atuou como mobilizador, na execução da etapa de mapeamento do Participaçu, programa de monitoramento integrado e participativo da empresa Porto do Açu, em parceira com o CIEDS. Agora, o profissional de 27 anos deu continuidade ao trabalho na fase de consulta participativa, chamada PerguntAção.
"Conheço todo mundo que é nascido e criado aqui [no Açu], desde os mais novos aos mais idosos. Minha amiga fala que às vezes eu pareço uma pessoa pública. Sou bem aceito nas casas. Independente do que eu levo, sou bem recebido. Pessoas de fora têm dificuldade de entrar nas casas e ter conversas com os moradores. Às vezes, sou usado com peça-chave, no bom sentido, para fazer pesquisas. Consigo o máximo de informações possíveis", conta.
Neste momento, o projeto está na fase de desenvolvimento de consulta participativa, um processo colaborativo composto por dez jovens bolsistas moradores da cidade, que serão capacitados para desenvolver e aplicar um levantamento de opiniões – Luiz César é um deles. Na prática, durante três meses, o grupo passará por um processo formativo que percorre etapas de sensibilização a respeito de temáticas sociais, construção de uma pesquisa e, posteriormente, a aplicação e apresentação de resultados no território.
Antes disso, no início do programa, Luiz César ainda havia sido mobilizador durante quatro semanas. "Foi muito gratificante, da minha parte, como um jovem da comunidade, poder conhecer a realidade do local, adentrar os lares, descobrir o que as pessoas realmente desejam para o futuro. Descobri muitas coisas que não sabia sendo morador do local, ouvir os desejos deles e quais são as perspectivas", explica o jovem.
O maior desejo da comunidade é a respeito da questão do emprego. "É o que o pessoal mais almeja: ver a juventude empregada. Não só em São João da Barra, mas em todo o Brasil, o desemprego é uma questão, mesmo para as pessoas mais qualificadas. A população espera que seja empregada mão de obra local. Outro desejo das pessoas é que a comunidade se desenvolva junto ao complexo portuário", revela Luiz César.
E completa: "A Porto [do Açu] vem tomando essa realidade para si, contratando mão de obra local. É o que mais me deixa feliz como morador e ser humano, porque trabalho é dignidade. Sem renda, a dignidade fica mais complicada. Nossa comunidade é muito carente. A Porto do Açu tem se aproximado da comunidade. Estou mais feliz".
Apesar de estar extremamente engajado nas necessidades do local onde nasceu, Luiz César nega que pretenda se aventurar no mundo da vida política. "Apesar de eu ser bem falante, sou envergonhado. É meio contraditório, mas eu sou. Não me vejo concorrendo a nenhum cargo político ou tomando uma grande liderança, a não ser na associação, que eu faço de coração. Adoro o trabalho de pesquisa, porque adoro contato com pessoas. Essa experiência me abriu um leque de opções. Nunca havia me visto como mobilizador, mas, depois, achei que tinha tudo a ver. Foi uma satisfação imensa", garante o ex-cabeleireiro, que precisou se reinventar após ver o movimento do salão cair.
Nas aulas ao lado dos demais jovens, Luiz César aprende seus direitos e deveres e como pode cobrar poder público e sociedade civil para trazer melhorias à sua comunidade. Entre temas das aulas, estão políticas públicas, educação, engajamento cívico, saúde e outros. "Você ganha uma dimensão de conhecimento que não tinha antes e passa a saber mais dos seus direitos como cidadãos. Assim, fica mais fácil cobrar, porque você sabe o que está falando".