Antes de entrar na Casa Viva a minha vida era muito complicada. A memória mais clara que tenho da infância é de quando o Conselho Tutelar foi na minha casa, em Belo Horizonte, buscar eu e minhas irmãs e nos levar ao abrigo. Lá fui adotada e quando meu pai faleceu, minha mãe nos trouxe para o Rio de Janeiro. Hoje, minhas irmãs estão todas espalhadas por vários estados do país.
Eu me dava muito bem com a minha mãe, mas depois que cresci começamos a brigar muito. Eu queria sair, ir para a rua, e ela não deixava. Então eu me revoltei e saí de casa. Morei por algum tempo na rua e com essa revolta comecei a usar drogas.
Morar na rua fez com que eu conhecesse muitas pessoas e uma delas me levou para um abrigo em Botafogo. Pouco depois eu fui transferida para a Casa Viva onde moro até hoje.
Já fugi muito de lá para ir para baile, mas agora eu parei porque a diretora falava para mim: “Rayra, você está lá se divertindo, mas eu não dormi pensando em você à mercê da violência na rua”. Então eu entendi que precisava cuidar mais de mim e fico mais em casa. Gosto muito de fazer artesanato e ficar conversando com meu namorado no telefone.
Eu sou uma pessoa muito fácil de lidar, mas é preciso entender meus problemas, minhas tristezas e meus medos. Morar na Casa Viva fez com que eu mudasse muito.
Não uso mais drogas. Sou mais paciente e calma agora, sei lidar melhor comigo mesma e penso muito no futuro.
Moro com outras 15 adolescentes e eu converso muito com elas. Eu sei o que elas passaram, então consigo dar conselhos.
Hoje uma das minhas irmãs mora comigo na Casa. Ela tem 15 anos e transtornos mentais, então é muito difícil de lidar. Ela já morava em abrigo quando começou a ter crises. Apesar disso, nós somos próximas e tudo o que eu mais quero é entendê-la melhor.
Depois desse tempo na Casa Viva me sinto mais preparada. Quero trabalhar com maquiagem, que aprendi sozinha, e estudar muito. Ainda não sei ao certo o quê, mas sei que é importante estudar. Meu maior sonho é conquistar a minha autonomia e ser feliz com as minhas irmãs.
Unidade de Reinserção Social Casa Viva, é um serviço de acolhimento provisório para crianças e adolescentes que demandam atenção especializada em função do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas. O serviço é uma gestão compartilhada entre a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e o CIEDS.