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Nos tempos da brilhantina

Notícia
14 agosto 2018
Nos tempos da brilhantina

Magda mora na Moura Brito há seis anos. Uma senhora de olhos azuis cristalinos, que se iluminam e sorriem quando ela volta ao passado e conta as suas aventuras de vedete, atriz, chacrete, dançarina, malabarista, cantora. Fez até fotonovela. As fotos antigas revelam uma mulher belíssima, cheia de curvas, que sorri travessa nas fotos em preto e branco, dividindo o palco com as famosas Chacretes, dançarinas da Discoteca e da Buzina do Chacrinha.

A história de Magda repete a de tantas mulheres bonitas que, nos anos 60 e 70, se arriscavam na carreira artística. Casou, separou três meses depois; saiu do Brasil, arrumou namorados, despertou paixões, ódios, ciúmes. Os filhos, uma moça e um rapaz, foram criados pela mãe, enquanto Magda viajava e tentava a sorte como artista.

Anos e anos depois, o ex-marido começou a disputar a guarda do filho com Magda. Primeiro, inventou que pagava a ex-mulher para poder ver o menino. Depois, começou a questionar, na Justiça, a capacidade que Magda teria para sustentar os filhos.

Hoje na sala da residência terapêutica, com suas fotos e recortes de jornais e revistas espalhados na mesa, com suas histórias de amores, viagens e glamour, reconstruindo um tempo de aventuras, qualquer um pode perguntar o quê, verdadeiramente, manteve Magda internada – seria o poder, o machismo, o preconceito?

Ela é agora uma senhora, tão bonita quanto na juventude. Quando veio para a RT, saindo do Hospital, gravou um CD e fez show, ainda vestida de vedete. A loucura de Magda pode ter sido simplesmente a ousadia de ser livre, de ousar não cumprir o papel esperado e correr atrás dos seus desejos. Quantas mulheres já foram internadas, assassinadas, excluídas quando insistiram nos seus sonhos à revelia da “moral e dos bons costumes”?

Mas Magda voltou. Na Moura Brito, ela se reorganiza, com toda a sua graça, acertando mais uma vez o passo com um valor muito caro às RTs: a liberdade.

Os Serviços Residenciais Terapêuticos promovem, por meio da oportunidade de uma moradia no território, a qualidade de vida e a reinserção social de pessoas que passaram longos períodos em instituições psiquiátricas, com muitos direitos violados, em especial, o direito de ir e vir. O trabalho ocorre com gestão compartilhada do CIEDS com a Superintendência de Saúde Mental do Rio de Janeiro.