Aldeli Carmo visitou dois Distritos do Vale do Zambeza - Quelimane e Morrumbala. Morrumbala é um dos dois primeiros Distritos onde o CIEDS vai trabalhar. O segundo é Mutarara. Para chegar em Morrumbala a partir de Maputo, é preciso voar por 1:40h até Quelimane e depois pegar aproximadamente 2h de estrada, com apenas uma parte asfaltada.
Em Vila de Morrumbala, sede do Distrito, com cerca de 10.000 habitantes, Aldeli se deparou com muita pobreza. Grande parte da população não tem acesso a saneamento básico, nem a energia elétrica. A questão alimentar é dramática. Há produção de alimentos como milho e feijão, mas o aproveitamento dos alimentos é precário, por que faltam técnicas simples de armazenamento dos suprimentos. A educação merece destaque.
Apesar da precariedade na estrutura física das escolas, os estudantes estão engajados no processo de educação. “Conversei com alguns estudantes, crianças, jovens e adultos, e nos seus relatos e expressões, há alegria e prazer em estar no ambiente escolar”, lembra Aldeli. Um grande problema é que as crianças não conseguem concluir o Ensino Fundamental, da 1ª a 9ª série. O maior obstáculo é o trabalho na agricultura. Em períodos de boa safra toda a família vai para a Machamba, o equivalente à roça brasileira.
E aí, a escola deixa de ser prioridade. “Observei que há mais meninos do que meninas nas escolas. Isso gera uma inversão na educação de jovens e adultos. Nesse âmbito, as mulheres estão em maioria nos bancos escolares. Nas famílias, os irmãos mais velhos são quase sempre as melhores referências dos menores, mas a mãe é figura importante para todos! A mulher trabalha muito... Procuram emprego em qualquer área, mas possuem baixa qualificação profissional, e, portanto, não encontram trabalho”, analisa Aldeli.
A ação do CIEDS faz parte de um programa maior de desenvolvimento da região. que compreende três grandes componentes, divididos entre outras três instituições, que integram o consórcio: a Agência Mandalla de Desenvolvimento Holístico Sistêmico Ambiental, a Assessoria e Consultoria de Marketing Ltda., AGLG, e o COOFAMOSA, Committee for the Facilitation of Agriculture between Mozambique and South África. Mulheres de Moçambique Em Moçambique as mulheres vivem em situação paradoxal. São responsáveis pela produção dos alimentos, pelo transporte da água, pela educação, saúde e planejamento familiar. Trabalham, inúmeras vezes, em situações extremas – em meio a calamidades públicas, doenças endêmicas e guerrilhas. E, no entanto, a legislação não reconhece plenamente sua cidadania.
Ainda existe o poder marital, que dá ao homem o direito legal de decisão em todos os aspectos da vida conjugal. A religião é um elemento que possibilita uma forte opressão sobre a mulher. Pauline Chiziane, romancista moçambicana, escreve: “Nas religiões bantu, todos os meios que produzem subsistência, riqueza e conforto como a água, a terra e o gado são deificados, sacralizados. A mulher, mãe da vida e força da produção da riqueza, é amaldiçoada.
Quando uma grande desgraça recai na comunidade sob a forma de seca, epidemias, guerra, as mulheres são severamente punidas, e considerads as maiores infratoras dos princípios religiosos da tribo pelas seguintes razões: são os ventres delas que geram feiticeiros, as prostitutas, os assassinos e os violadores de normas. Porque é o sangue podre de suas menstruações, dos seus abortos, dos seus natimortos que infertiliza a terra, polui os rios, afasta as nuvens e causa epidemias, atrai inimigos e todas as catástrofes.”