Vandré Brilhante Diretor-Presidente
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O que o agravamento da crise climática tem a ver com desigualdade e pobreza?

Artigo
29 janeiro 2024
O que o agravamento da crise climática tem a ver com desigualdade e pobreza?

Tivemos alguns fenômenos recentes que demonstram a situação grave pela qual passa o nosso país e o mundo, em relação ao agravamento da crise climática. O ano de 2023 entrou para a história do Brasil como o mais quente já registrado, com recordes de temperatura – que inclusive se mantêm em alguns locais neste início de 2024. O sertão brasileiro passa pela pior seca dos últimos 40 anos e foi registrada uma estiagem histórica nos rios da Amazônia.

O fenômeno é causado pelo aquecimento anormal do Oceano Atlântico, combinado ao El Niño, e já atingiu cerca de 500 mil pessoas, impossibilitando o acesso a alimentos, medicamentos e água. E de quebra ainda vemos eventos extremos na outra ponta do país, com temporais catastróficos, como os registrados no Sul, no fim do ano passado, ou ainda nas regiões de periferias do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense, em janeiro deste ano.

E o que esses fenômenos têm em comum?

São previsíveis e atingem os mais pobres.

A questão do racismo ambiental se mostra muito nítida em momentos como estes. Quem é mais afetado pela estiagem é a população ribeirinha do Amazonas e a população cabocla do interior do Nordeste. Quem é mais afetado pelas chuvas são as famílias mais pobres, de zonas rurais ou periferias de grandes cidades.

Isso mostra que, apesar de termos avançado em discussões importantes em fóruns e conferências internacionais, ainda não temos nenhuma estrutura para enfrentamento do agravamento climático que de fato atenda aos mais pobres.

O que geralmente acontece, após um fenômeno extremo como esse, é que as organizações de base comunitária (sempre falo delas por aqui!) fazem um trabalho fundamental, de campanhas para doações de roupas, cestas básicas e materiais de higiene. Mas, passada essa situação de emergência, não vemos ações concretas para a recuperação da vida dessas famílias, como um programa econômico ou uma linha de financiamento do governo para estruturá-las socioeconomicamente.

Somente um novo pacto social, envolvendo Estado, sociedade civil e empresas, é capaz de solucionar essa questão. Se faz necessária, dentro desse contexto, a criação de algumas linhas de financiamento para que o terceiro setor e os governos municipais possam acessar e investir nas populações mais pobres, impactadas pela crise climática. E não adianta só construir uma casa para quem perdeu tudo numa enchente.

Habitação é importante, é claro. Mas também é preciso garantir comida, educação, acesso a água e saneamento, cultura e garantia de um futuro melhor para os jovens, com formação técnica e profissional. Se não investirmos na formação profissional e cidadã de milhões de jovens das famílias mais pobres, por exemplo, vamos ter um grupo de pessoas mal preparadas, que vão ficar à margem dessa nova economia e vão estar suscetíveis a subempregos e sem conhecimento para lutar por seus direitos.

Como a gente estanca esse ciclo de renovação da pobreza? A gente precisa pensar nesse novo pacto, com o objetivo de reduzir a desigualdade social e a pobreza, olhando principalmente para o agravamento climático e como ele afeta as populações mais vulneráveis. Afinal, embora a crise climática seja sentida por todos, já sabemos quem são, de fato, os mais afetados.  O Cieds desenvolve ações integradas de fortalecimento das habilidades básicas para empreender, melhorar e empregabilidades de jovens e adultos e ações que valorizam o território na busca de ações promotoras de mais saúde, mais cidadania, mais cultura e acima de tudo, ações promotorias de confiança no futuro.