Estive na maior exposição de mineração da América Latina, evento que acontece bianualmente, e que este ano, aconteceu entre os dias 09 e 12 de setembro em Belo Horizonte – Minas Gerais. A EXPOSIBRAM , é organizada pelo IBRAM - Instituto Brasileiro de Mineração, uma organização nacional privada e sem fins lucrativos, que representa as empresas e instituições que atuam no setor mineral e é considerado o porta-voz da Mineração Brasileira, reunindo mais de 200 associados que, direta ou indiretamente, fazem parte da atividade mineral brasileira.
A exposição apresentou números surpreendentes, mais de 60 mil participantes, 2000 congressistas e quase 500 expositores. Dentre os parceiros do CIEDS, estavam presentes a Vale , BAMIN , Norsk Hydro, dentre grande outras empresas.
O congresso, parte da exposição, reforçou significativamente a relevância da mineração brasileira para as transições que precisamos enfrentar em nossa sociedade atual, visando garantir segurança alimentar, segurança energética, segurança mineral e segurança hídrica; ao mesmo tempo em que sublinhou fortemente a capacidade do setor de atração de investimentos para o país, de modo a impulsionar o enfrentamento das desigualdades sociais, desde que optemos por um modelo de mineração que seja mais ambiental e socialmente responsável.
No que tange à transição energética, por exemplo, fica claro que para que a transição para fontes de energia renovável e descarbonização da economia ocorra na velocidade e tempo que o mundo necessita, dependemos diretamente de metais críticos para a produção de tecnologias como: para a produção de baterias de íons de lítio (usadas em veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia), que dependem de lítio, cobalto e níquel; para painéis solares dependemos de rata, índio, gálio e telúrio; e para turbinas eólicas necessitamos de metais como neodímio, disprósio e outros elementos de terras raras para a fabricação de ímãs potentes. Ou seja, se para garantirmos a transição energética justa e urgente, vamos precisar da mineração; mas não de qualquer mineração, mas sim de uma que considere objetivamente os temas ambientais e sociais.
Fica evidente que já houve bastante evolução nas duas agendas, mas que ainda há muito e se fazer. Destaco aqui alguns pontos que me pareceram importantes, que fui extraindo de tudo que vi, vivi e ouvi e anotando em meu caderno, para que esses avanços se concretizem:
- Necessidade de separarmos e difundirmos boas práticas das práticas que não são adequadas.
- Garantir melhor aplicabilidade da ciência e de novas tecnologias que vem sendo desenvolvidas em todo o mundo, com alta capacidade de mitigação de impactos negativos. E ampliação do investimento em pesquisa e desenvolvimento.
- É preciso criar maiores canais de diálogo e mesas de debate onde todos possam falar – mineradoras, governo e sociedade civil organizada – construindo consensos sobre os caminhos possíveis para uma mineração ambiental e socialmente justa – gerando maior permeabilidade no setor.
- Temos que ampliar os mecanismos de fiscalização, sem com isso ampliar os processos de burocratização, mas para garantir que estamos realizando processos adequados e alinhados às demandas da sociedade. A fiscalização também representa uma garantia ao cidadão da devida segurança.
- Investir em modelos e estratégias adaptativas, que estejam alinhadas e acompanhem às demandas da sociedade.
- Focalizar no desenvolvimento de fornecedores locais, irradiando o desenvolvimento econômico do setor para os territórios.
- Instrumentalizar a sociedade com maiores informações sobre a relevância e a essencialidade do propósito do negócio – zerando os impactos e contribuindo genuinamente com a sociedade.
- Garantir diversidade e representatividade no setor – promover maior atração de mulheres, negros, população LGBTQIAPN+, aliando desse modo as oportunidades de expansão produtiva à oportunidades de ações afirmativas para públicos minorizados.
- Utilizar com maior intencionalidade as vozes dos grupos de poder do setor para garantia de difusão das agendas social e ambiental.
- Aprimorar as legislações brasileiras, em contínuo diálogo com a sociedade e com as melhores práticas mundiais para aproveitarmos o potencial de desenvolvimento econômico, mas garantirmos mais equidade, justiça social e oportunidade para todas as pessoas.
Destaco aqui a relevância do setor para o nosso país. O Brasil é um dos maiores produtores de minério no mundo. O setor represente 4% do nosso PIB, com alto potencial de ampliação, gera, segundo dados do IBRAM, mais de 210 mil empregos diretos e mais de 2,5 milhão de empregos ao longo da cadeia e mercado.
Nesse campo, importa ainda dizer que o contexto político é favorável, a questão da mineração envolve diretamente questões geopolíticas e econômicas e países politicamente instáveis, diferentemente do Brasil. Logo, garantir um equilíbrio entre expansão das tecnologias de mineração e a gestão responsável desses recursos é crucial para enfrentarmos desigualdades sociais, realizarmos as transições necessárias que sejam efetivamente justas, e não só evitarmos novos impactos sociais e ambientais, mas utilizá-los como molas promotoras de um país mais justo, equitativo e democrático.
Finalizo esse texto, sabendo que esta temática, ainda nos gera muitas reflexões, mas preciso dizer que mais que as reflexões nos importa, nesse momento, uma ação coletiva. Uma escuta que leve à ação.
Nós do CIEDS temos investido no desenvolvimento de tecnologias sociais que permitam um maior engajamento dos territórios, o desenvolvimento econômico local e uma escuta – que leve à ação – das múltiplas vozes que coexistem nesse espaço, lembrando sempre da necessidade imperiosa de equilibrarmos as estruturas de poder.
Por fim, estar lá foi importante pra mim, como cidadão e como Diretor Executivo de uma organização da sociedade civil; penso que sim é possível construirmos novos caminhos, que garantam e promovam uma mineração mais ambiental e socialmente responsável.