Até pouco tempo, se uma ONG (Organização Não-Governamental) adotasse processos mais profissionais de gestão, ela era percebida pela sociedade como uma empresa, cujos valores estariam mais associados ao benefício próprio, e não ao desenvolvimento coletivo. Ainda bem que isso está cada vez mais desaparecendo, pois a gestão com pessoas no Terceiro Setor precisa ser profissionalizada. Todos se beneficiam de organizações da sociedade civil qualificadas, com processos e relações profissionais bem estabelecidas.
No CIEDS, um grande avanço nesse sentido foi a criação da Diretoria de Gente e Cultura, a qual sou hoje a Diretora. O fortalecimento de uma área de gestão com pessoas, sobretudo de gestão por competências é um dos caminhos estratégicos para a solidificação da profissionalização e de investimento numa gestão especializada. A gestão por competências aumenta a integração de maneira geral, melhora a tomada de decisão a respeito da escolha de candidatos e a sua gestão e possibilita maior engajamento, além de trazer transparência, compromisso e responsabilidade. É preciso assumirmos que uma organização do Terceiro Setor é potente e tem um olhar para a gestão com pessoas de uma forma qualificada, profissional e responsável.
Mas, o que é a gestão por competências?
De maneira resumida, a gestão por competências consiste na identificação dos conhecimentos, habilidades e atitudes de cada colaborador. Nesse processo, também é importante a realização de um mapeamento das competências que cada cargo exige. Feito isso, então, a gente tenta fazer match: colocar a pessoa certa no lugar certo da organização. A partir disso, ao identificarmos a necessidade de aprimoramento e desenvolvimento do colaborador, são elaborados planos, trilhas formativas para que ele possa adquirir ou aperfeiçoar as suas competências e, consequentemente, aumentar os resultados e impactos da organização.
Há cerca de seis meses, iniciamos um novo processo de gestão com pessoas. Realizamos uma nova etapa de mapeamento de competências, aplicamos nova avaliação de desenvolvimento e agora estamos em um momento de feedback e desenho dos planos de desenvolvimento individuais de nossos colaboradores. Como desdobramento de nossas ações, criamos alguns programas de desenvolvimento, como um específico para desenvolvimento de novas lideranças e outro de incentivo ao aumento da escolarização e profissionalização, com apoio a formações, capacitações e especializações, entre outros.
Com esse processo, já percebemos uma mudança comportamental e de atitude, um maior envolvimento, engajamento e comprometimento de todos. O próprio colaborador acredita que ele pode se desenvolver na instituição. E os gestores estão olhando para as novas ferramentas e tecnologias e entendendo como elas podem auxiliar no seu processo de gestão. Eles estão se envolvendo mais nas jornadas de desenvolvimento de suas equipes, o que é bom para todos.
O próximo passo é fortalecer e aperfeiçoar cada vez mais essa gestão. Estamos aprimorando nossos processos de captação e retenção de talentos, pois hoje somos sabedores de que a experiência/vivência prática, criatividade e comportamento são fatores essenciais num profissional, não bastando só a experiência técnica comprovada em carteira profissional.
Estamos desenhando uma diretriz de plano de cargos, carreiras e salários que seja mais atrativa e competitiva. Implementamos um pacote de benefícios espontâneos que dá ao colaborador do CIEDS cerca de 35 dias no ano, sem compensação e desconto. São folgas remuneradas, que incluem projetos como a Sexta Mais Curtas – quando encerramos o expediente às 13h –, o Day Off de aniversário e o recesso de final de ano. É como se cada colaborador tirasse um mês de férias extra no ano. Que empresa hoje faz isso?
Mas também é importante mantermos sob perspectiva o fato irremediável de que somos uma organização social que lida com um universo enorme de pessoas, de várias áreas. É nosso papel fundamental fazer a defesa de valores que contribuem para o mundo que acreditamos. E precisamos fazer isso não só internamente, com os nossos colaboradores, mas também com cada pessoa com quem nos relacionamos, sejam beneficiários, parceiros financiadores ou fornecedores. Nós estamos em cada cantinho do Brasil.
É aí que entra um dos nossos cases de sucesso, o Eduque Seu Olhar, que em seu primeiro ano de atuação foi vencedor do Prêmio Ser Humano da ABRH-Rio (Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro), na categoria Organização do Terceiro Setor. O que começou como um compromisso global de proteção integral aos direitos humanos de Crianças e Adolescentes, firmado junto ao UNICEF, se transformou em um programa robusto, que amadureceu e ganhou espaço na organização.
Com o nome construído coletivamente pelos colaboradores, o programa tem a perspectiva central de conduzir uma série de ações que visam romper com a naturalização das violências cotidianas e provocar a corresponsabilização de todos os atores na prevenção, denúncia e enfrentamento às violações de direitos de crianças, adolescentes e jovens – sobretudo meninas e mulheres. E falar de enfrentamento às violências e abuso sexual é falar de confiança no futuro, tão fundamental à nossa instituição.
O CIEDS assumiu o papel de orientar, mobilizar, educar, incidir e fortalecer as políticas públicas voltadas para criança e adolescente na condução do Eduque Seu Olhar. Ele é transversal na governança institucional, presente em nossas políticas, Código de Ética, Grupos de Trabalho, campanhas de comunicação, oficinas temáticas e espaços de decisão. Ouvidos em pesquisa de percepção, 74% dos colaboradores revelaram ter tomado novas atitudes em relação à prevenção e combate às violências. Uma vitória para todos.
Nossa gestão de pessoas, portanto, trabalha também sob a perspectiva de garantir maior qualificação e mais informação para todas as pessoas que estão ao nosso redor, desde os nossos colaboradores até todos os nossos stakeholders. A evolução do nosso modelo de gestão, ao qual chamamos de Prosperidade 360, vem de um compromisso nosso com mais transparência institucional e com uma sociedade mais justa, democrática e equitativa.