Matheus da Silva e Leandro Sousa têm uma origem parecida. Ambos vêm de um bairro periférico da zona leste de São Paulo, são de escolas públicas, se autodeclaram como pretos e foram criados por uma mãe solo. Apesar das aparentes similaridades, enquanto o primeiro tem só 15 anos, o segundo está na casa dos 30. Foi no Engaja, projeto do Unicef,em parceria com o CIEDS e apoio da Saint-Gobain, que as duas histórias foram entrelaçadas. O encontro, que começou como uma mentoria, se transformou numa amizade duradoura e em caminhos de oportunidades.
"Ele é dos meus, veio do mesmo lugar que eu, é de quebradinha. A gente sabe quem é dos nossos. E quando a gente vê um dos nossos vencer, é como se ganhasse mil vezes. Tive muita sorte de alguns caminhos abrirem. Só quem viveu aquilo sabe que tem muita gente até melhor que você, que poderia ter voado, e não voou pelas circunstâncias", diz Leandro.
Quando era pequeno, Matheus trocou muitas vezes de sonho de profissão, mas uma coisa sempre soube: era muito curioso e queria entender como as coisas funcionavam, de carros a controles remotos. Com um pouco de orientação, entendeu que o caminho que desejava seguir era o da engenharia mecânica. "O match que o Engaja fez foi perfeito", ele conta. "Temos histórias parecidas, o que ajudou a gerar mais identificação. Estou passando pelas mesmas coisas que ele já passou um dia. Ver onde ele está hoje é uma motivação a mais."
Leandro, o mentor, atualmente trabalha como engenheiro sênior em uma multinacional do ramo automobilístico. Nos encontros do Engaja, explicou para Matheus, o mentorado, os caminhos que ele poderia seguir, desde um curso técnico até uma bolsa do Prouni.
"Foi um processo fantástico. O Matheus é muito inteligente, e o que a mãe dele faz por ele me lembra minha mãe. A única coisa que eu fiz foi falar de caminhos possíveis que trilhei, que vi outras pessoas trilharem ou que sei que existem. Ele ficou empolgado de saber que tem alguém que passou pelo mesmo caminho", conta Leandro, que classifica a experiência como uma troca. "Ganhei muito ao ter contato com a juventude, que não tem preconceitos que a minha geração tinha. Eles estão muito mais ligados nas questões sociais. Vejo a vida como um rio, que um dia deságua no mar. A gente só cresce quando deixa outras pessoas entrarem, como os afluentes entram num rio".
2022 promete ser um ano cheio de oportunidades para Matheus, que conseguiu uma bolsa de estudos integral em um colégio particular, com alimentação e transporte inclusos.
"Minha participação no Engaja influenciou demais a decisão de me inscrever para a bolsa. Já tinha aparecido essa oportunidade antes, mas eu estava sem motivação, achava que não daria certo. Foi chegando o dia final da inscrição, fui evoluindo no Engaja e percebi que poderia conseguir. Naquele ponto, já estava começando a ter um rumo. Um dia antes de acabar, me inscrevi. Conforme fui passando de fase, fiquei surpreso comigo mesmo. O Engaja me ajudou no meu desenvolvimento pessoal e emocional. Foi extremamente importante. No meio da pandemia, eu estava perdido", conta.
O Engaja tem como objetivo apoiar jovens em situação de vulnerabilidade social na preparação para o mundo do trabalho, por meio do desenvolvimento de competências para a vida, habilidades para o empreendedorismo social e fomento à inserção no mercado de trabalho ou oportunidades de formação educacional. Os participantes criam uma rede de engajadores e engajados na construção de soluções para si e para seus territórios.
Matheus, que agora já consegue enxergar seu futuro com mais confiança, tem buscado compartilhar seu conhecimento com os colegas, numa espontânea iniciativa de construção de redes para prosperidade no território. "O que aprendi no projeto, estou tentando usar também para ajudar eles". Em paralelo, continua trocando mensagens com Leandro, após o fim da participação no Engaja. Essas duas histórias, com suas diferenças e similaridades, estão para sempre entrelaçadas.