Uniformes escolares, cabelos coloridos, cochichos e risadas entre amigos: assim estava o Museu Histórico Nacional. Poderia ser mais uma excursão escolar, mas o destino, na verdade, era o auditório do centro cultural. Tão logo estavam à frente da plateia, a vergonha de falar em público, comum a quase todos os adolescentes, se dissipava e era transformada em empolgação por poder explicar e compartilhar detalhes de seus projetos, viabilizados com o apoio do Projeto Piloto Engajamento Cívico.
Yasmin dos Santos era uma dessas estudantes. A menina de 16 anos estava prestes a se formar do 2° ano do ensino médio, no Colégio Estadual Júlia Kubitschek, quando sentiu necessidade de melhorar a escola. Faltava afeto, ela observava, entre os próprios alunos e também entre os alunos e o corpo docente. Ao saber do projeto do CIEDS, em parceria com o Itaú Social e a Secretaria Estadual de Educação do RJ, logo se inscreveu para participar, por entender que a escola precisava de mudanças, e que esta seria uma ótima oportunidade para começá-las.
"A gente viu uma chance de inovar o colégio, as atividades, de colocar os alunos em contato com a direção e com os próprios alunos. Com a ajuda do projeto, criamos novos eventos, em que os alunos pudessem interagir, com a ajuda de psicólogos, para trazer mais educação sobre coisas que ainda são tabus", conta Yasmin.
O grupo do Colégio Júlia Kubitschek escolheu como tema a questão da saúde mental. "Sabemos que muita gente tem uma saúde mental debilitada, fraca. Muitos alunos às vezes se sentem isolados. Chamamos eles para conversar, começamos a fazer uma roda de amigos. Às vezes, a pessoa não tem ninguém para conversar e fica um pouco abatida, no canto dela. A gente via que muitos alunos ficavam mais recuados, onde era para eles se sentirem mais livres", explica a menina.
Na opinião dela, o objetivo principal, que era levar o tema de forma leve, para que todos pudessem participar, foi atingido: "Levamos psicólogos para a escola. Como a gente não pode dar o atendimento individual, porque seria muita gente, fizemos uma reuniãozinha, com 40 alunos por vez. O psicólogo conseguia deixar aquela consulta mais divertida, de modo que todos pudessem interagir".
Além das sessões com psicólogos, os alunos levantaram também outros projetos, como o Cine Julia, em que exibem, durante o almoço, um filme ou um curta-metragem, além da Rádio Julia e do jornal da escola, que voltou a rodar, com conteúdo sobre saúde mental. Fizeram ainda um festival de poesia, com a ajuda dos professores de português. "Não era uma premiação. Todos que participassem, ganhavam. Só que, no final, a gente deu um crédito a mais para as pessoas que deram mais tempo de si", conta a jovem de 16 anos.
Para ela, o Projeto Piloto Engajamento Cívico foi fundamental para que as ideias saíssem do papel: "A gente até pensava nesses projetos, mas nunca tinha tomado iniciativa para realizá-los. Com o projeto, a gente conseguiu tomar essa iniciativa".
Para 2020, o grupo já fez uma lista de atividades, que planeja colocar em pauta assim que começar o ano letivo. "Como será nosso último ano [na escola], pretendemos deixar uma marca, uma semente plantada para os alunos de 2021, e assim por diante", conclui. Quanto ao vestibular, Yasmin conta que pretende fazer pedagogia. Engajada em melhorias dentro do próprio colégio, ela já demonstra que está no caminho certo.
Conheça o projeto
O projeto engaja estudantes do ensino médio, professores e demais interessados da comunidade escolar em ações coletivas em prol do desenvolvimento do território. Elas são pensadas a partir de desafios diagnosticados por participantes ao longo de oficinas. Há nove escolas estaduais parceiras, em diversos municípios do Estado do Rio de Janeiro, como a capital, São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti.