“Pesquisa realizada pela UNESCO em maio de 2004, com 5.000 docentes da rede pública e privada de todo país, constatou que a homossexualidade é um comportamento considerado inadmissível por quase 60% dos entrevistados.” Com estas palavras o jornalista Irineu Ramos abriu o Segundo Seminário de Diversidade Sexual, voltado para educadores de 03 Estações da Juventude do ProJovem na região Sul de São Paulo.
Considerando a experiência e impacto do I Seminário de Diversidade Sexual realizado na Estação Juventude de São Miguel, o convívio diário dos professores com a comunidade escolar e a troca de experiências e ensinamento junto aos alunos, o CIEDS, em consonância com a Coordenação Municipal, pautou este Seminário como ação prioritária na qualificação dos seus educadores. Os mais de 100 professores presentes no Seminário reconheceram a necessidade de esclarecer questões relativas à sexualidade para que possam tratar do tema em suas aulas livre de preconceitos, auxiliando seus alunos a entender a homossexualidade, lesbianidade, bissexualidade e transsexualismo.
Estes Seminários são organizados pela CADS (Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual da Secretaria de Participação e Parceria) que tem por objetivo promover e divulgar toda ação que combata a homofobia. Neste dia, vimos que os assuntos de Diversidade Sexual são inerentes a todos os segmentos sociais vulneráveis da sociedade como mulheres, negros, idosos e deficientes (que hoje têm respeitado o seu valor em todas as esferas, resultado de sua organização histórica).
Que a cidade de São Paulo tem o maior índice mundial de homicídios a homossexuais. Em contraponto a cidade de São Paulo abriga a maior Festa de Rua mundial (a Parada Gay), que movimenta mais dinheiro no município do que outros eventos de grande porte, como o Campeonato Mundial de Fórmula I ou o São Paulo Fashion Week. Que o mercado potencial deste público na cidade é grande, carregado de respeitabilidade, locais que a sociedade reconhece hoje como de excelência e qualidade. Que o movimento GLBT (Gays, Lésbicas, bissexuais e transgêneros) luta hoje não pelo beijo velado na TV, mas pelo uso adequado de termos que não sejam pejorativos ou preconceituosos.
Assim como o negro é protagonista de novelas hoje, uma conquista também do movimento, e como no primeiro mundo os termos que serão utilizados na mídia são discutidos junto aos respectivos segmentos (não se diz aleijado para o deficiente físico), o movimento não é GLS – gays, lésbicas e simpatizantes, pois os simpatizantes não sofrem preconceito. Se diz GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros - que incluem travestis e transsexuais) ou mesmo GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transsexuais). Que se diz orientação sexual ao invés de opção sexual, pois o público não opta por ser homossexual (e por sofrer todos os estigmas e preconceitos destinados a ele). Se diz também a travesti, ao invés de o travesti, pois assim é como elas clamam serem chamadas, em coro nos Fóruns TTs (transexuais e travestis) de todo Brasil.
Assim, vimos que o Movimento GLBT acumula conquistas: o Conselho Federal de Psicologia considera inadmissível desde 1999 que o homossexualismo seja tratado como doença psíquica ou de qualquer ordem. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam metas de qualidade onde “a Orientação Sexual nas escolas deve problematizar, levantar questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e opções, para que o estudante possa, ele próprio, escolher o seu caminho”. Uma lei municipal (10.948) repudia qualquer atitude homofóbica em qualquer local da cidade, podendo ser acionada a qualquer tempo e que embora de pequeno alcance, é uma conquista que se amplia para efetivação da criminalização de quaisquer práticas homofóbicas.
Os Seminários se configuram como espaço de reflexão para os educadores, de suas ações e de melhoria de posturas, não só frente aos seus alunos, como frente a si mesmos: “Precisamos estar atentos com o que estamos fazendo nós de nós mesmos e o que estamos fazendo com aquilo que fizeram de nós”, alerta um dos professores do seminário. Tenho um aluno que parece ser homossexual. Como proceder? Considerando que a maioria dos homossexuais não encontram respaldo familiar para lidar com sua orientação sexual, os educadores tem um importante papel na orientação destes e dos outros alunos em geral, no sentido de normatizar as relações de liberdade e sabedoria de viver com a diversidade, seja de orientação sexual ou de outra ordem.
Em primeiro lugar, não é porque o garoto ou garota parece ser que necessariamente seja homossexual. Se um menino não gosta de jogar futebol ou uma menina se dedica a atividades consideradas masculinas, não devemos por isso julgá-los nem pré determiná-los. O comportamento social de uma pessoa não tem a ver com sua orientação sexual. Mas, se de fato o/a estudante tem orientação homossexual e está sofrendo algum tipo de discriminação, procure conversar com a turma sobre o assunto, tomando cuidado para não expor ninguém. Revelar a orientação homossexual é particularmente difícil e só deve ser feito pela própria pessoa, quando ela se sentir preparada e para quem desejar revelar. Demonstre disponibilidade para conversar fora do horário de aula com quem tiver mais interesse sobre o tema. Se algum estudante procurar ajuda sobre a sua sexualidade, ouça e, se for necessário, encaminhe-o para o psicólogo da escola ou peça orientação no Conselho Regional de Psicologia.