Juventude, para o CIEDS, compõe um universo de agentes transformadores, não somente pela passagem da vida infantil para a vida adulta, mas porque são um grupo etário em que sonhos são projetados e questionamentos são levantados sobre a cultura social vigente. Mas é importante entendermos que nem todo jovem tem esse privilégio de sonhar.
Temos que começar a discussão sobre juventude entendendo que há diferentes tipos de jovem. Existe o jovem que nasce na classe média. Ele tem comida, médico, abrigo, lazer, brinquedos e uma família que dá apoio. E principalmente está numa boa escola e ainda não pensa em trabalho. Passa pela adolescência num processo formativo bem orientado e pensa em ir para uma universidade. Esse jovem tem uma visão de futuro garantida, social e economicamente, com possibilidade de usufruir desse momento da vida que é único.
Mas a história é outra, quando a gente pensa em crianças que nascem pobres, seja no interior do Nordeste, numa favela no Rio de Janeiro ou num município do Amazonas. A mãe já teve uma alimentação deficiente e a criança nasce com subnutrição. Na infância, a diversão é mínima, a possibilidade de ir a uma escola é baixa e é precário o acesso a itens básicos, como água corrente, esgoto e energia elétrica. Essa criança, muitas vezes, está exposta a violências, seja na rua ou dentro de casa. E acaba com a pré-adolescência atropelada por uma maturidade forçada, pois já começa no mundo do trabalho. É obrigada a ganhar dinheiro para sobreviver e não tem a perspectiva de ir a uma universidade.
Esse segundo cenário representa uma perda gigantesca para o país, não só no aspecto do atropelamento do direito de ser jovem, mas economicamente falando também, pois esse jovem não tem mais uma formação educacional e psicossocial que permita que ele seja um ator produtivo competitivo, que tome decisões cidadãs no futuro. Para garantir o combate à pobreza integral, a gente tem que olhar para essas crianças, pois elas também vão ser o futuro do Brasil.
O CIEDS entende e discute “juventude” a partir de referências conceituais contemporâneas, que consideram que dados biológicos, etários ou jurídicos, que são comumente utilizados para caracterizar esse segmento, não são suficientes para defini-lo. Consideramos que gênero, etnia e classe social são alguns dos condicionantes que interferem na forma de ser jovem e geram desigualdades no usufruto dessa condição.
No universo de jovens com os quais trabalhamos, há um grupo de jovens que têm maior dificuldade em vislumbrar futuros melhores, não conseguem se manter na escola porque têm dificuldade em acompanhar o ritmo e o modelo escolar imposto e são de famílias menos estruturadas. Quando são beneficiários de projetos sociais e culturais, dão maior importância ao lanche, à bolsa financeira de apoio e mesmo à doação de cestas básicas, denotando a vulnerabilidade em que tais famílias se encontram e ainda a premência do atendimento às necessidades básicas.
É importante destacar que a condição de ser jovem sofre grave interferência dependendo das condições sociais, econômicas, geográficas e mesmo psicológicas dos jovens. Estou no CIEDS há 25 anos e garantir o direito de ser jovem, hoje, em 2023, é mais difícil do que quando comecei. O adolescente está mais exposto. Crianças já usam celular, sem um controle ético no consumo de informações. Esse distúrbio psicossocial cria uma falta de perspectiva de futuro, de desesperança e de abandono da escola. Há uma explícita necessidade de recursos financeiros para suprir necessidades básicas e cotidianas. A maioria não associa a permanência na escola como garantia de um futuro melhor.
A efetivação do direito ao acesso a educação, saúde, lazer e cultura não é igual para todos os jovens. O usufruto da juventude pelo mais pobre é comprometido e muitas vezes interrompido. O fator segurança, justiça e pertencimento à cidade são barreiras, quase insuperáveis, no acesso a oportunidades e à formação cidadã.
Para alinharmos nossos objetivos institucionais ao tema juventude, partimos da convicção de que os jovens são sujeitos de direitos. E, a partir daí, nos desafiamos com a seguinte pergunta: “por que o CIEDS trabalha com juventude?” Nossas motivações são múltiplas, mas partem principalmente do fato de os reconhecermos como agentes de transformação, com grande potencial de criação. Grande parcela desse segmento ainda está vulnerável. Por isso a importância da promoção de políticas públicas para esse segmento.
Atuamos com jovens em todo o território brasileiro. Nossa inquietude com relação à efetividade de nossas ações é uma constante, pois queremos desenvolver projetos e ações impactantes e formadoras de jovens qualificados e melhor preparados aos desafios da vida adulta. Nossas ações são mais eficazes por termos uma escuta diferenciada com os jovens, sabermos ouvi-los e entendermos suas demandas. Com essa abordagem por meio do diálogo, estimulamos a autoconfiança e o empoderamento desses interlocutores juvenis fazendo com que nossas ações também se ampliem.
Estamos cientes da importância de discutirmos nossas experiências e relatos de ações voltadas para os jovens. Por isso, sempre convidamos nossos parceiros, tanto do âmbito da esfera privada, quanto da esfera pública, para um movimento institucional que coloque em foco a importância das políticas públicas para juventude – especialmente no mês de agosto, quando é celebrado o mês das juventudes. (Dia 24/8, aliás, tem o Ocupa CIEDS, uma live organizada pelos jovens de nossos projetos, ao lado de nosso GT de Juventudes, a partir das 15h, no canal de YouTube do CIEDS. Não perca!)
Ao nos considerarmos também como agentes transformadores, entendemos que nosso papel institucional é integrar esforços e metodologias para gerar mais oportunidades, mais encontros, mais pontes e redes. Temos o dever de promover ações articuladas que garantam voz aos jovens e que possam favorecer a compreensão da relevância das políticas públicas para a juventude, para o seu futuro e para o futuro de sua comunidade.
Lutar pela efetivação dos direitos para todos os jovens do Brasil é uma de nossas metas.