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Trabalho formal e sonhos: novas portas a jovens em medida socioeducativa

Notícia
4 maio 2023
Trabalho formal e sonhos: novas portas a jovens em medida socioeducativa

O jovem Kevin Borges de Oliveira, de apenas 21 anos, tem grandes sonhos para o seu futuro: quer trabalhar com moda e ter a própria marca de alta costura. Já a mãe Vanessa Pinto da Silva sonha para o filho Jonas Kauan da Silva de Mello um futuro tranquilo, com um trabalho digno. Mães e filhos, jovens e adultos, têm desejos e sonhos, e grande parte deles passam por um aspecto fundamental: a oportunidade de acesso a um emprego formal. Em 2022, a taxa de desemprego no Brasil entre os jovens era de 19,2%, mais que o dobro da taxa de desemprego entre a população geral, que era de 9,3%, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Mas como fica essa situação, quando se trata de jovens que cumprem ou cumpriram medida socioeducativa, ou seja, medidas aplicadas em juízo com finalidade pedagógica em menores de idade que incidirem na prática de atos infracionais? 

O projeto Justiça pelos Jovens, uma realização do CIEDS em parceria com o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), busca justamente endereçar essa questão. O objetivo da iniciativa é proporcionar experiência profissional no mercado formal de trabalho a jovens em cumprimento de medida socioeducativa ou que estejam em remissão suspensiva (quando um juiz ou juíza confirmam o perdão oferecido pelo Ministério Público a um menor infrator). A expectativa é que essa oportunidade formal possibilite a eles mudanças significativas de vida, bem como a elevação de sua escolaridade – já que o projeto exige que o jovem tenha no mínimo o 7º ano do Ensino Fundamental cursando ou completo. 

A experiência profissional supervisionada será nas unidades organizacionais do Poder Judiciário Estadual. Kevin, por exemplo, trabalha como auxiliar administrativo há cerca de um mês e, segundo ele, faz de tudo um pouco, desde escaneamento e vínculo de documentos a processos, até atendimento ao público – o que faz com naturalidade, pois já trabalhou informalmente com vendas. Este, no entanto, é o seu primeiro emprego formal, com carteira assinada. 

"Eu acredito que todas as oportunidades a gente tem que agarrar e ir em frente. A gente sempre pode ter um pouco de aprendizado que pode ser usado lá na frente. Mesmo que eu tenha outros objetivos e essa não seja a minha área de atuação, estou me entregando 100% porque sei que no futuro posso usar esse conhecimento", conta Kevin. 

E completa: "Hoje eu estudo moda, vou me formar em setembro como consultor de imagem e já estou preparando portfólio. Quero ser stylist. O meu objetivo daqui a alguns anos é estar fora país, estudando em Milão. E um dia eu pretendo ter a minha própria marca de alta costura". 

Os jovens foram encaminhados pelas Varas de Infância e da Juventude, pelos Centros de Referência Especializado da Assistência Social, pelos Centros de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente e pelas Unidades do DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) – este último foi justamente o caso do Kevin. 

O pagamento dos jovens, ao fim do mês, serve também como contribuição extra à renda familiar, como explica Vanessa, no caso de Jonas: "Nós perdemos o pai dele de uma forma bem trágica e ficamos sem suporte. Para chegar até aqui, meu filho passou por um processo que me deixou preocupada, mas já havia um propósito, que era hoje ele estar nessa vaga de trabalho. E hoje ele fala que é o homem da casa. Dessa forma ele vai conseguir ajudar a gente a sair um pouco desse sufoco, porque todo dinheiro que ele pega, ele me dá um pouquinho." 

O objetivo é também reduzir a reincidência de atos infracionais dos participantes do projeto e prepará-los para o mercado de trabalho, com o incentivo à escolarização. E pelas histórias de Kevin e Jonas já é possível perceber avanços neste sentido, especialmente com o aumento da confiança no futuro.