O desenvolvimento das democracias, das economias globais e da sociedade civil organizada traz uma dimensão específica e fundamental ao relacionamento institucional e isso se remete à necessidade inerente de cooperação e colaboração entre diferentes instituições para enfrentar desafios complexos e promover o desenvolvimento sustentável.
Fazer parte de uma organização que completa 25 anos no Brasil já é, por si, razão para celebrar. Quando olhamos nossa história e compreendemos que juntos, colaboradores e mais de 1.000 parceiros, já impactamos 2 milhões e 300 mil pessoas por meio da realização de mais de 760 projetos sociais e socioambientais, o orgulho não cabe no peito. E isso se fortalece pela pujança de um time interno que trabalha todos os dias centrado no objetivo de ampliarmos mais e mais o nosso impacto.
É genuíno dizer que este público se une visando um mundo mais equitativo, mais democrático, mais sustentável e com maiores e melhores oportunidades sociais e econômicas para todos.
E uma de nossas ações de celebração deste movimento de 25 anos foi o de reunir nossos colaboradores dos escritórios do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável) de todo o Brasil para uma imersão na Rocinha, uma das maiores favelas do Brasil.
A iniciativa de imergir na Rocinha parte pelo território ser uma referência em empreendedorismo, sustentabilidade e inovação social. Para tanto, foi criado, em 2023, o Parque de Inovação Social, Tecnológico e Ambiental da Rocinha - PISTA, iniciativa que conta com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da SEAS (Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade) e do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro a FAPERJ, que, em uma iniciativa pioneira, lançou uma chamada exclusiva voltada para Rocinha e conhecido como Favela Inteligente, que selecionou vinte e seis projetos que juntos dão a dimensão de um distrito de inovação que promova dinamismo econômico sustentável com base na ciência, na tecnologia e na inovação.
Dentre os projetos contemplados pelo edital Faperjl, está a BECO – incubadora criativa e programa de empreendedorismo de negócios periféricos do CIEDS. A BECO é voltada para apoiar e acelerar negócios de impacto de periferia e tem sede junto à Biblioteca Parque C4, em uma parceria com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. A proposta prioriza empreendimentos que apontem demandas urgentes da comunidade no âmbito da economia criativa e socioambiental. A BECO também faz parte da Unidade Geradora de Negócios do Parque de Inovação, que amplia o foco no desenvolvimento de soluções voltadas a resíduos sólidos, mobilidade e logística, segurança, acessibilidade, indústria criativa, finanças sociais, agroalimentos e energia.
Assim, a imersão pelos becos e vielas na Rocinha permitiu nos aproximar da inovação social na prática do relacionamento institucional, que remonta à própria formação das sociedades humanas e à necessidade de cooperação entre diferentes grupos e organizações para atender a objetivos comuns e enfrentar desafios compartilhados.
Tivemos a oportunidade de estarmos em três frentes, na última sexta-feira, 04 de agosto: conhecer a BECO, um empreendimento apoiado pela incubadora (@projeto_torre_verde) e outro negócio social que já é referência na comunidade no Rio de Janeiro e que, assim como a BECO, também é apoiado pelo edital FAPERJ, fazendo parte do Parque de Inovação da Rocinha (@oleo_nopontto).
O projeto de referência e também apoiado pela FAPERJ (e a nossa primeira parada da imersão) foi o “Óleo no Ponto”: projeto criado para tentar diminuir o impacto negativo causado pelo óleo de cozinha descartado de forma incorreta no meio ambiente. Em um dos acessos à Rocinha, dentro do CIEP Ayrton Senna da Silva, você encontra este projeto que produz uma série completa de sabões biodegradáveis: o Sabão do Morro, como já foi batizado.
O Óleo no Ponto é um projeto que surge do trabalho de conscientização ambiental realizado pela Família na Mesa - Associação Saber e Socializar - com famílias em situação de vulnerabilidade social na Rocinha. O trabalho da associação consiste no cadastro e acompanhamento de famílias submetidas à insegurança alimentar para fornecer ajuda imediata com cestas básicas, atendimento psicológico, indicação de atividades esportivas e educação ambiental.
Paralelo ao trabalho de conscientização para reduzir o impacto do óleo descartado de forma incorreta no meio ambiente, o projeto visa promover a qualificação profissional e a geração de renda por dois eixos: com a transformação do óleo em sabão (barra, pasta e líquido) para comercialização em parceria com empreendedores locais, instituições públicas e privadas que atendem a comunidade; e pela movimentação de uma moeda social - que está em via de implementação - que será dinamizada pelo acúmulo de pontos, conforme a quantidade de resíduo doado, que serão convertidos em produtos e mantimentos para todos que aderirem à campanha de doação de óleo usado (fonte: https://rocinha.rio/escritorio-de-projetos/lista-de-iniciativas/projetos-da-faperj/oleo-no-ponto-86).
A segunda parada da imersão foi no projeto “Torre Verde”, que atende a 780 alunos de 4 a 12 anos da Rede Municipal do Rio de Janeiro. É um projeto de economia circular completo e inovação tecnológica que inclui a geração de energia verde através de placas solares, sistemas de captação de água de chuva para irrigação; 4 andares de hortas suspensas e a transformação de resíduo orgânico em adubo por meio de uma aceleradora de compostagem.
A TORRE VERDE_ROCINHA está localizada no terreno das escolas municipais CIEP Bento Rubião e Luiz Paulo Horta e consiste em uma estrutura metálica com 4 pavimentos dividida da seguinte forma:
- Nível térreo abriga: 1. aceleradora e trituradora para os resíduos orgânicos; 2. depósito para descanso do adubo; e 3. guarda de materiais e equipamento de automação da torre (placas solares e iluminação);
- Nível +2,50m: acesso à Torre e área para manuseio de mudas e adubo;
- Níveis + 5,00m; +7,50m: produção de alimentos orgânicos;
- Nível +10,00m: produção de alimentos orgânicos + caixas d’água (quatro caixas de 500l cada);
- Nível +12,50m: placas solares (8 placas medindo 2x1m).
Este é um projeto piloto que tem como objetivo o teste do produto viável mínimo (MVP) de uma tecnologia social que poderá ser replicada em maior escala de acordo com o sucesso deste projeto. A estimativa de redução de resíduo orgânico da Torre Verde hoje é de 90 kg/dia, equivalente a 1,8 toneladas mensais. Considerando que 1 tonelada de carbono removido do meio ambiente é o equivalente a 1 crédito de carbono, cada torre verde será capaz de gerar diretamente 21,6 créditos por ano (fonte: https://aaa.com.br/view/67).
A terceira e última parada da imersão na BECO, onde acontecem as formações e que serve também como espaço de coworking para ampliar a rede de empreendedores do território. No local, promovemos uma roda de conversa sobre inovação social, para que, a partir das perspectivas somadas, fosse possível construirmos novos saberes.
A inovação social existe para solucionar um problema social, atuando, assim, para o desenvolvimento de uma comunidade. Uma inovação social pode ser um produto, uma solução, como também um processo ou movimento: e todas essas características de inovação social foram vistas in loco na Rocinha.
Para o CIEDS, a inovação social se configura como uma releitura de processos e uma nova forma de implementação dos projetos e programas. Ao longo de seus 25 anos, o CIEDS tem adotado melhorias em processos usualmente realizados e soluções habitualmente oferecidas, fornecendo respostas criativas (não necessariamente atreladas à tecnologia) a problemas complexos.
Assim, finalizamos o dia com a certeza de que a inovação social é necessária e vê-la na prática, por meio do impacto do CIEDS e de suas redes, é gerar maior confiança no futuro.
"Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo."
“O Mundo”, de Eduardo Galeano. Poema trazido por Neiriele Marques Da Silva , Coordenadora de Articulação do Centro de Referência de Juventude (CRJ) de Serra (ES) ao final do encontro.
Integração, troca de experiências, um olhar mareado, brilhante e cheio de confiança no futuro e na força que cada um carrega dentro de si.
CIEDS, gente junto é agente.