Na sala da Unidade de Reinserção Social (URS) Paulo Freire, em Campo Grande, os adolescentes aguardavam a pesquisadora Irene Rizzini para uma tarde de conversa sobre suas histórias, vivências e expectativas dentro e fora do espaço de acolhimento. A visita foi motivada por sua aluna, a psicóloga da unidade, Carla Cerqueira.
“Só na recepção, nós já vemos toda a diferença. Esses adolescentes sentaram conosco, dialogaram e fizeram perguntas. Vemos o interesse deles em participar e narrar suas expectativas na construção de experiências melhores quando saírem da unidade. Isso reflete o trabalho de escuta realizado com eles”, contou Rizzini.
A pesquisadora trabalha há mais de quarenta anos na defesa dos direitos de crianças e adolescentes em conexão com as ruas. Hoje, atua como professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e dirige o Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância.
Ela orientou Carla em sua tese de mestrado, que teve como tema “A participação dos adolescentes no processo de desligamento e o direito à convivência familiar e comunitária”.
“Ter uma pesquisadora do meio acadêmico visitando esses jovens é uma oportunidade de comemorar os acertos no acolhimento institucional e pensar em soluções para os desafios”, pontua Carla. “A aproximação do pesquisador com seu objeto de estudo é muito importante, pois ele tem um papel fundamental na difusão de práticas bem-sucedidas e pode contribuir com propostas para implementação de novas políticas públicas”, explicou.
No período de sua produção acadêmica, Carla ainda trabalhava na URS Bangu. A psicóloga usou exemplos do seu dia a dia como estudo de caso, pois percebeu que incentivar o fortalecimento da autonomia, a participação, a escuta atenta e a sensação de pertencimento fazia com que as crianças e os jovens ficassem abertos ao cuidado.
Algumas das práticas da unidade são: oficinas culinárias, onde os acolhidos aprendem o preparo, a higienização e o armazenamento dos alimentos; projetos de festividades, realizados em datas comemorativas para incentivar a integração do grupo; e a oficina Família em Foco, que realiza o acompanhamento familiar após reintegração. Os jovens também participam de escolhas comuns do cotidiano, desde a pintura da casa, até a disposição dos móveis e o cardápio do dia.
Como também aponta a dissertação de Carla, essas práticas mudaram as estatísticas da unidade. Alguns dos efeitos foram a diminuição no número de evasões e a maior taxa de reinserção social dos acolhidos, tanto no contexto familiar como no comunitário.
Em sua visita na URS Paulo Freire, a professora Irene Rizzini disse ser notório o impacto positivo das práticas relatadas por Carla na pesquisa. Também sugeriu que propostas como as adotadas pela psicóloga e toda a equipe sejam seguidas por outras instituições dessa natureza não só no Brasil, mas também no exterior.
O CIEDS faz a gestão compartilhada das Unidades de Reinserção Social junto à Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro.