“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação”, pensamento do educador e antropólogo Carlos Henrique Brandão que deu início a mais uma edição do Seminário da Rede de Territórios Educativos de Várzea Grande (MT). Com o tema “Desafios e oportunidades da Rede de Territórios Educativos de Várzea Grande – RTE/VG, em 2020”, a Prefeitura da cidade e os parceiros da Rede realizaram entre os dias 25, 26 e 27 de novembro uma série de conversas com representantes de Fundações, Organizações da Sociedade Civil e outros atores locais sobre a atuação do Terceiro Setor durante este período de pandemia e como a educação é o ponto de partida para o enfrentamento aos obstáculos em diferentes situações do desenvolvimento de uma criança.
Mais de 2 mil crianças do município são assistidas e protegidas atualmente, resultado do trabalho conjunto da Rede de Territórios Educativos em cinco anos. Maria Tereza Urbano é uma missionária paranaense que chegou em Mato Grosso no ano de 1991. Ela ficou tocada com a situação de crianças em extrema pobreza na comunidade da Vila São João, decidiu morar no bairro e fundar o Cenprhe Canopus, o Centro de Promoção Humana Emanuel. Ela foi uma das convidadas do evento para contar sobre os desafios da instituição durante a pandemia. Na sua fala, reforçou que a solidariedade foi a palavra mais forte e que marcou o território. “Fomos aos poucos criando novas formas de comunicação com as crianças e adolescentes e conseguimos criar um contato direto também com as famílias. As Fundações e empresas se apoiaram nas OSC que estão na ponta atingindo inúmeras famílias.
"Nos vimos todos como iguais e isso trouxe, realmente, atitudes de solidariedade. Eu vi todo o território mobilizado, não somente com o fornecimento de cestas básicas e materiais de higiene, mas também na escuta afetiva das organizações", avalia.
Por outro lado, não foi somente a solidariedade que esteve presente nesse tempo. Segundo Inês Rodrigues, da Guarda Municipal, o número de atendimentos a crianças que sofreram violações de direitos, como abusos sexuais, triplicou nesse momento de isolamento social. “A gente consegue entender o quanto essa pandemia tem afetado as crianças, não só por não estarem estudando, mas por não terem segurança na própria casa”, atenta para a situação.
O projeto “A Arte de Proteger”, do qual faz parte, realiza uma série de atividades lúdicas para as crianças da região acerca da violência contra a mulher e crianças, como fantoches sobre a lei Maria da Penha, conversas da equipe técnica com elas e os adolescentes, além do incentivo à produção de redação e apostilas nas escolas, sempre em parceria com a Secretaria de Educação.
Eloise Rodrigues, psicóloga do Centro de Convivência Familiar e Comunitária de Várzea Grande, retratou alguns casos de crianças que foram abusadas por responsáveis ou membros familiares que convivem no mesmo ambiente. Elas chegaram a criar vínculos com professores da escola por se sentirem seguras perto deles e contaram o que acontece dentro de casa. Eloise ainda alerta para comportamentos frequentes que precisam ser observados durante a rotina, como a perda de interesse, os medos de lugares e de pessoas, o isolamento, a sexualidade avançada e a preocupação: “as crianças têm medo de ser vistas, escolhidas e o crime acontecer”, explica a psicóloga.