Conquistar uma vaga no mercado de trabalho é um dos desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+, sobretudo no caso de pessoas transgênero. Os altos índices de evasão escolar, decorrentes de situações de violência sofridas por estudantes desse grupo, colocam obstáculos para a capacitação dos jovens, sendo um dos fatores que restringem o acesso às oportunidades de emprego e empreendedorismo para aqueles que chegam até a fase adulta.
De acordo com dados levantados pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), somente 4% da população Trans feminina se encontra em empregos formais, com possibilidade de promoção e progressão de carreira, e apenas 6% estão em atividades informais e subempregos. Cerca de 90% da população de Travestis e Mulheres Transexuais utilizam a prostituição como fonte de renda.
Iniciativas que transformam vidas
Moradora de Cariacica, na Região Metropolitana de Vitória (ES), a capixaba Kaila Silva, mulher trans, conseguiu transformar sua vida a partir de uma oportunidade do Centro de Referência das Juventudes (CRJ) do município, implementado pela Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), desde julho de 2022, numa parceria com o CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Social).
Segundo Kaila, de 18 anos, o CRJ trouxe novas perspectivas e uma possibilidade concreta para ela fugir da prostituição. Kaila atua como articuladora do CRJ há quase um ano. Antes de ser empregada, ela participou de cursos oferecidos pelo Centro de Referência, como Comunicação Oratória, Direitos Humanos, Ética Trabalhista e Formação para o Mercado de Trabalho. Após fazer os cursos e concluir o Ensino Médio, ela conseguiu o primeiro emprego, no CRJ, gravou sua primeira música e já planeja o lançamento do clipe, que começa a ser produzido em março. Além disso, Kaila pretende voltar à Escola Técnica de Radio e TV, que começou a cursar, mas precisou interromper. Dentre seus planos, está também inspirar outras pessoas trans e abrir caminhos para que novas histórias sejam contadas.
“Eu consegui romper um ciclo que muitas pessoas trans, como eu, ainda não conseguiram romper. Fico feliz por mim, mas triste pela maioria de nós. Então, eu quero poder ampliar essas oportunidades.”, revela Kaila.
Desde sua implantação, o CRJ Cariacica incluiu ações para a comunidade LGBTQIA+, promovendo oficinas e criando estratégias para garantir acolhimento, acesso e oportunidades a esse público. Aos 26 anos, o coreógrafo e educador social Jadson Titanium, que é trans não binário e atua no CRJ de Cariacica, sendo responsável pelo processo formativo dos jovens, explica que “é fundamental fomentar, articular e potencializar a juventude nesse espaço e incluir a diversidade nesse processo foi, desde o início, uma prioridade”.
O objetivo é contribuir para a redução dos elevados índices de crimes violentos (homicídios e roubos) entre jovens de 15 e 29 anos, nas regiões de maior vulnerabilidade social e, historicamente, mais atingidas pela violência. Por mês, cerca de 800 jovens são atendidos. O CIEDS também faz a gestão do CRJ Novo Horizonte, em Serra. Ao todo, são 14 Centros em dez municípios do Estado.
De acordo com dados do ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e do Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), o Espírito Santo é o 6º estado onde mais se matam pessoas trans no Brasil.