O CIEDS vem historicamente investindo em gestão, em melhoria de processos e em governança. Este ano, pela segunda vez consecutiva, fomos eleitos a melhor ONG do Brasil e a 44ª melhor do mundo, no ranking do thedotgood., prestigiada organização de mídia independente sediada em Genebra, na Suíça. O prêmio é um dos mais importantes entre organizações da sociedade civil do mundo.
Ao longo dos últimos 26 anos, nosso olhar para a sustentabilidade do CIEDS foi sendo apurado através de nossas experiências na gestão de projetos sociais, que somam 760 projetos de impacto com 1000 parceiros e 2,5 milhões de beneficiários diretos.
Atualmente, para realizar uma gestão financeira eficiente em uma organização da sociedade civil é necessário, além de um bom planejamento estratégico e inovação, outros elementos são fundamentais – dos quais destaco:
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1. USO DE TECNOLOGIAS PARA OTIMIZAÇÃO DE RECURSOS
O uso de tecnologia pode ser um grande aliado na otimização de custos e de processos para organizações da sociedade civil, permitindo maior eficiência, escalabilidade, redução de retrabalhos e melhor gestão de recursos.
Apesar de uma solução muito tentadora para otimização de processos, é preciso considerar o letramento digital (ou seja, a capacidade de usar tecnologia de forma eficaz) daqueles que utilizam a tecnologia. Além disso, os altos custos de implantação e manutenção de tecnologias precisam estar acompanhados de um bom planejamento, que considere os desafios financeiros das organizações da sociedade civil ao longo do tempo, bem como a gestão desse portfólio, garantindo integração entre as tecnologias.
Quando falamos de seu uso na implementação de projetos para aumento do seu impacto e alcance da replicabilidade de ações, é preciso considerar o acesso desigual à tecnologia, um desafio persistente no Brasil e em várias partes do mundo, especialmente entre populações mais vulneráveis e historicamente minorizadas. Em 2022, a pesquisa TIC Domicílios do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) apontou que 25% da população brasileira ainda não tem acesso regular à internet, sendo que grande parte dessa lacuna está concentrada nas regiões Norte e Nordeste e entre as famílias de baixa renda.
Além disso, o letramento digital ainda é limitado, especialmente em populações mais vulneráveis. Isso dificulta a plena implementação de projetos que dependem de tecnologia.
Por isso, para o uso de tecnologias tanto internamente nas organizações quanto na implementação de projetos sociais é preciso que haja sempre um estudo prévio dos usuários da solução e da infraestrutura disponível no local. A construção da solução tecnológica deve ser implementada em partes, sempre testando a experiência dos usuários, bem como disponibilizando o máximo de informações explicativas, com o objetivo de reduzir as dificuldades de primeiro contato. O monitoramento da experiência do usuário deve ser constante e servir de insumo para melhorias desta solução.
2. TRANSPARÊNCIA E PRESTAÇÃO DE CONTAS
Durante a pandemia de COVID-19, observamos um aumento significativo no envolvimento de empresas em iniciativas sociais, tanto por uma maior percepção de responsabilidade social, quanto pelo reconhecimento de que esses projetos trazem benefícios indiretos para os negócios.
Um estudo do BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo) mostrou que, em 2021, mais de 80% das empresas aumentaram ou mantiveram seus investimentos em projetos sociais. As empresas veem esses projetos como uma forma de gerar impacto social positivo, o que, por sua vez, fortalece sua imagem e pode criar vínculos com comunidades locais, proporcionando um retorno indireto.
Com o aumento da demanda por projetos sociais, as exigências tornaram-se mais rigorosas, o que gera um desafio adicional para as organizações da sociedade civil, já que a complexidade desses processos acaba acarretando custos altos.
As organizações do terceiro setor ainda enfrentam dificuldades para alocar recursos adequados para o desenvolvimento e custeio institucional, necessários para manutenção de suas operações, treinamento de pessoal e investimento em soluções digitais que ampliam a escalabilidade dos projetos, bem como em ferramentas de gestão que auxiliem na sustentabilidade da organização. Sem recursos adequados para o custeio e desenvolvimento institucional, as organizações da sociedade civil enfrentam um desafio adicional no que tange a inovação e melhoria contínua.
Uma estratégia essencial para superar esse desafio é estabelecer uma comunicação clara e frequente com financiadores, destacando a importância de recursos específicos para custeio e desenvolvimento institucional para garantir a execução e o impacto dos projetos.
Isso pode ser feito por meio de relatórios detalhados, que não apenas demonstrem como os recursos são utilizados, mas também ilustrem o impacto alcançado. Além disso, a transparência deve incluir a apresentação de planos futuros e as necessidades reais da organização, criando um ambiente de confiança mútua e abrindo espaço para negociações que cumpram com as exigências de cada financiador considerando os recursos possíveis da organização da sociedade civil.
3. FORTALECIMENTO DE PARCERIAS ESTRATÉGICAS COM FORNECEDORES
As organizações sociais enfrentam barreiras na contratação de fornecedores que compreendam e atendam suas necessidades específicas. Devido à limitação de orçamento e à demanda por prazos curtos e logísticas diferenciadas, muitas organizações enfrentam desafios significativos para encontrar parceiros que possam oferecer preços acessíveis, qualidade de serviço e flexibilidade nas entregas.
Além disso, os custos acabam sendo mais altos devido à falta de fornecedores especializados e às exigências de transparência, que podem complicar ainda mais o processo e aumentar o esforço necessário para a garantia de preços mais competitivos.
De modo geral, organizações da sociedade civil possuem pouco poder de barganha com grandes fornecedores. Nesse sentido, o fortalecimento de relacionamento com pequenos e médios fornecedores é uma estratégia que para mitigar as limitações da sociedade civil organizada sem que onerem os mesmos, além de contribuir com o desenvolvimento de pequenas e médias empresas.
No CIEDS, acreditamos que a solução para problemas complexos está na complementaridade de saberes. E quando falamos sobre gestão de organizações sociais, a situação não é diferente.
Para que as organizações da sociedade civil possam garantir sua sustentabilidade e excelência na implementação de projetos sociais, é fundamental pensarmos juntos — empresas, órgãos públicos e participantes dos projetos — em estratégias que aumentem o impacto positivo e garantam a implementação de procedimentos robustos no que tange a compliance, gestão de riscos e monitoramento e avaliação de impacto.